Agora um torcedor comum,
Carlos Alberto Parreira gostou e aprovou a escolha de Dunga como novo técnico
do Brasil. Ex-coordenador da seleção, o parceiro de Luiz Felipe Scolari na
última Copa do Mundo não guarda mágoas da sua saída, que aconteceu há pouco mais
de uma semana, assistiu à toda a coletiva de imprensa de apresentação do novo
treinador e acredita que a dupla do time de 94 "tem tudo para dar
certo".
Depois do impacto da demissão, Parreira
entende agora de cabeça mais fria que a mudança foi mais do que justa.
Em
entrevista para o ESPN.com.br, o ex-membro da comissão técnica nos últimos dois
anos diz que realizou um sonho de ter feito parte do Mundial do Brasil, embora
tenha saído derrotado, e que deixou para a nova delegação algumas sugestões,
entre elas a necessidade urgente de transformar o futebol brasileiro.
"Eu cheguei em casa quando a entrevista
estava começando. Assisti inteira. O Dunga voltou mais maduro. A vida é assim.
Tem tudo para dar certo. Ele até foi bem sucedido na primeira passagem. Ele é
sério, pragmático, transparente, trabalhador, tem a essência boa. A motivação
que eu tinha era a seleção e a Copa do Brasil. A vida agora continua. Foi uma
perda, parecida com uma perda familiar, é verdade, um pouco menor, mas a vida
segue", afirma Parreira.
Na entrevista, o coordenador falou sobre os
treinos na Granja Comary, sem privacidade alguma. Diz que isso poderia mudar
com grades e lonas, mas que Felipão optou por manter tudo aberto.
O técnico do tetra entregou nesta
terça-feira, justamente no dia da apresentação do novo treinador, o famoso
relatório prometido, elaborado também com Felipão, sobre todo trabalho
realizado de preparação e durante a Copa do Mundo.
E fez um pedido, de que o
documento também chegasse às mãos de seu sucessor, o ex-empresário Gilmar
Rinaldi.
"A gente entregou hoje (terça) o
relatório. Não tem nada de novo, todo mundo sabe o que tem de ser feito.
Engenheiro de obra pronta é o que mais tem nesse mundo. O difícil é saber como
fazer. Inclusive a gente pediu para entregar uma cópia para o Gilmar Rinaldi.
Para reforçar a nossa posição sobre tudo. Um conselho para quem chega: a
primeira coisa é pensar na seleção brasileira, não perder o foco, mas também
pensar no futebol brasileiro. Não existe seleção forte com clube fraco. É a realidade
do futebol que tem de mudar", defende.
"Não há mágoa nenhuma. Quando você
ganha, você tem de sair. Dificilmente você repete o feito duas vezes seguidas.
Se quando você ganha você sai, quando não ganha não tem discussão nenhuma. Tem
de sair e pronto. Foi a decisão certa", completa.
Veja o que disse Parreira na breve
entrevista
ESPN.com.br - O que achou sobre a
escolha de Dunga?
Carlos Alberto Parreira - A vida é assim. Ele
assumiu lá trás sem nenhuma experiência, com a cara e a coragem. Tentando aprender
um monte de coisas e ele foi até bem sucedido, mas não conseguiu a Copa. Ele
volta mais maduro, já passou por aquilo. Ele é sério, pragmático, transparente,
trabalhador, tem essência boa, tem tudo para dar certo. Vão ter cascas de
banana pela frente. A Copa América será difícil, as eliminatórias também. O
importante mesmo é a Copa do Mundo, as outras competições são relativas. As
cascas têm de tirar da frente. Não é nenhum fantasma, mas estamos há 12 anos
sem ganhar a Copa. Não é fácil.
ESPN - O que são as cascas
de banana?
CAP - São derrotas. Coisas
que acontecem, mas Marin disse muito bem na entrevista, que tem de ter
continuidade até a Copa de 2018, tem de manter até a próxima Copa. O Dunga
falou bem sobre a Alemanha. Não é de agora que eles estão bem. Os alemães não
iam para a final desde 2002. É a primeira final que o Joaquim fez, o primeiro
título. Isso que a gente tem que copiar, o que eles fizeram a gente tem de
fazer.
ESPN - Como você está depois da Copa?
CAP - A minha maior
motivação era estar na seleção na Copa do Mundo no Brasil. Eu vejo as confusões
dos clubes e não me motivo mais tanto. Vejo o Flamengo, por exemplo. Esse dia a
dia eu sinceramente não sinto falta. Você não imagina o quanto tudo isso é
duro. Estou na fase de aproveitar e dar mais valor para a família. Quero curtir
esse momento. Quando aparece um convite como esse você não pode dizer não. Tem
de arriscar, ingressar em projetos. A vida continua. Foi uma perda, parecida
com uma perda familiar, é verdade, um pouco menor, mas a vida segue
ESPN - O que você disse aos jogadores
logo depois da eliminação?
CAP - Disse isso também. A
vida continua. Foi só uma pausa para o sonho que eles estão correndo atrás, de
conquistar uma Copa do Mundo. Disse apenas que a viagem que eles embarcaram mudou
de lugar e de época, mas ela ainda existe. No relatório que fizemos, falamos
disso, do quanto é difícil ganhar uma Copa.
ESPN - Marin falou na entrevista sobre
mudar a Granja Comary para dar possibilidade de treinos fechados. Isso fez
falta?
CAP - Nós fomos responsáveis
pela Granja. Nós insistimos muito para que se investisse nessa reforma. As
palavras que Marin disse, de conforto, segurança e privacidade fui eu que falei
pra ele. Falaram que ficou muito exposta. A privacidade fora do campo foi perfeita.
Nós já tínhamos falado de melhorar, colocando muros e grades. Se não puder
colocar uma lona, tem de estudar a melhor maneira. O Felipão não quis fechar,
mas havia essa possibilidade. Ninguém teria visto. Mas ele não quis fechar. Tem
de melhorar isso aí, sim. Nós já tínhamos falado sobre isso. Eu acho que não
fez falta treino fechado. Ele não quis. Mas é verdade que qualquer esporro fica
muito exposto. O Felipão não sentiu essa necessidade.
ESPN - Dunga enfatizou que não dará
privilégios para ninguém, deixando claro que não haveria uma conversa com
poucos jornalistas como Felipão fez. Como você viu o episódio, acha que
prejudicou?
CAP - O Felipão é até muito
correto nisso, de não passar privilégio para ninguém. Não dá pra dizer se foi
certo ou errado. Ele quis conversar com quem ele tinha mais intimidade. Não dá
pra criticar, nem elogiar. A gente não perdeu a Copa por causa disso, sejamos
franco.
ESPN - Isso irritou a diretoria da CBF.
Chegou em vocês?
CAP - Sinceramente, não tem
motivo para falar sobre isso. Marin não falou comigo e o Del Nero também não.
ESPN - O que tem no relatório de vocês?
CAP- Ele foi entregue nesta
terça-feira. A Granja ficou tão boa, mas tão boa, que muitos querem ir lá. Se
você abrir para todo mundo, vai banalizar. Demos opinião sobre isso, por
exemplo. Mas não só isso, claro. Tudo que foi feito, planejamento, sugestões
sobre o futebol brasileiro. A gente entregou hoje (terça). Não tem nada de
novo, todo mundo sabe o que tem de ser feito. Engenheiro de obra pronta é o que
mais tem nesse mundo. O difícil é saber como fazer. Inclusive a gente pediu
para entregar uma cópia para o Gilmar. Para reforçar a nossa posição sobre
tudo.
ESPN - Qual conselho você dá para os
novos comandantes?
CAP - Primeira coisa é a
seleção brasileira, não perder o foco e também pensar no futebol brasileiro.
Não existe seleção forte com clube fraco. É a realidade do futebol.
ESPN - Você conhece bem a dupla Gilmar
e Dunga, acredita que vai dar certo?
CAP - Acho que pode dar
certo. O projeto é grandioso. Mudar o futebol brasileiro demanda muito tempo. O
Gilmar tem de fazer isso mesmo, acompanhar a base, mas ter uma equipe de
trabalho, mas se concentrar com o Dunga na renovação do futebol brasileiro. Não
é a seleção, é o futebol brasileiro. Tipo, calendário. Tem coisa mais complexa
que o calendário do futebol brasileiro? Não. Precisa de mais conforto nos
estádios, jogos atraentes, campeonatos mais legais. Nosso calendário é muito
apertado. Com 12 meses, tudo se comprime. Ele se baseia em três pilares:
político, técnico e financeiro. Conciliar isso aí é uma coisa para gênios.
Requer um fórum com todo mundo junto participando disso. Eles têm competência
pra isso. Gilmar é muito ligado e conhece futebol. O Dunga foi pra três copas,
duas finais, levantou a taça.
ESPN - Ficou alguma mágoa com a CBF?
CAP - Nenhuma, de jeito
algum. Quando você ganha, você tem de sair. Dificilmente você repete o feito
duas vezes seguidas, só duas seleções conseguiram isso. Se quando você ganha
você sai, quando não ganha não tem discussão nenhuma. Tem de sair e pronto. Foi
a decisão certa. Mas te juro que não conversamos sobre isso antes da Copa, nem
durante. É uma coisa que você tem de deixar acontecer. A gente não sabia se
queria ficar ou se queria sair. Mas hoje vejo assim. É importante dizer que a
CBF fez tudo que podia para nossa preparação, não há o que dizer, com toda a
liberdade.
ESPN - Dunga era o nome ou você acha
que tinham outros? Por que não o Tite?
CAP - Esse cargo é da
confiança de quem dirige. É de competência, claro, se não não chega lá. Mas na
hora da escolha prevalece a confiança de quem comanda. O Tite teria condições,
claro, era um grande nome, mas quem decide é o presidente.
ESPN - Alguma mágoa com o Alexandre
Gallo?
CAP - Desde que ele entrou,
a direção era clara para que ele fosse o treinador. Isso já estava
pré-estabelecido. A gente entra num terreno muito nebuloso para falar sobre
mágoas. O Gallo foi levado lá por nós e eu tenho certeza que ele é muito
correto. Se fez algumas coisa, não fez nada de próposito para prejudicar o
Felipão.
ESPN - Como você enxerga um empresário
na função de coordenador?
CAP - Acho que o Gilmar
deixou muito claro isso na coletiva. O ex-empresário Gilmar. E Marin também.
Quando alguém é escolhido, a vida toda é revistada, revirada. E não acharam nada.
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