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26 de julho de 2014

CARLOS ALBERTO PARREIRA DA ENTREVISTA, APÓS SER DEMITIDO DA CBF


Agora um torcedor comum, Carlos Alberto Parreira gostou e aprovou a escolha de Dunga como novo técnico do Brasil. Ex-coordenador da seleção, o parceiro de Luiz Felipe Scolari na última Copa do Mundo não guarda mágoas da sua saída, que aconteceu há pouco mais de uma semana, assistiu à toda a coletiva de imprensa de apresentação do novo treinador e acredita que a dupla do time de 94 "tem tudo para dar certo".

Depois do impacto da demissão, Parreira entende agora de cabeça mais fria que a mudança foi mais do que justa. 

Em entrevista para o ESPN.com.br, o ex-membro da comissão técnica nos últimos dois anos diz que realizou um sonho de ter feito parte do Mundial do Brasil, embora tenha saído derrotado, e que deixou para a nova delegação algumas sugestões, entre elas a necessidade urgente de transformar o futebol brasileiro.
"Eu cheguei em casa quando a entrevista estava começando. Assisti inteira. O Dunga voltou mais maduro. A vida é assim. Tem tudo para dar certo. Ele até foi bem sucedido na primeira passagem. Ele é sério, pragmático, transparente, trabalhador, tem a essência boa. A motivação que eu tinha era a seleção e a Copa do Brasil. A vida agora continua. Foi uma perda, parecida com uma perda familiar, é verdade, um pouco menor, mas a vida segue", afirma Parreira.

Na entrevista, o coordenador falou sobre os treinos na Granja Comary, sem privacidade alguma. Diz que isso poderia mudar com grades e lonas, mas que Felipão optou por manter tudo aberto.

O técnico do tetra entregou nesta terça-feira, justamente no dia da apresentação do novo treinador, o famoso relatório prometido, elaborado também com Felipão, sobre todo trabalho realizado de preparação e durante a Copa do Mundo. 

E fez um pedido, de que o documento também chegasse às mãos de seu sucessor, o ex-empresário Gilmar Rinaldi.
"A gente entregou hoje (terça) o relatório. Não tem nada de novo, todo mundo sabe o que tem de ser feito. Engenheiro de obra pronta é o que mais tem nesse mundo. O difícil é saber como fazer. Inclusive a gente pediu para entregar uma cópia para o Gilmar Rinaldi. Para reforçar a nossa posição sobre tudo. Um conselho para quem chega: a primeira coisa é pensar na seleção brasileira, não perder o foco, mas também pensar no futebol brasileiro. Não existe seleção forte com clube fraco. É a realidade do futebol que tem de mudar", defende.
"Não há mágoa nenhuma. Quando você ganha, você tem de sair. Dificilmente você repete o feito duas vezes seguidas. Se quando você ganha você sai, quando não ganha não tem discussão nenhuma. Tem de sair e pronto. Foi a decisão certa", completa.

Veja o que disse Parreira na breve entrevista
ESPN.com.br - O que achou sobre a escolha de Dunga?

Carlos Alberto Parreira - A vida é assim. Ele assumiu lá trás sem nenhuma experiência, com a cara e a coragem. Tentando aprender um monte de coisas e ele foi até bem sucedido, mas não conseguiu a Copa. Ele volta mais maduro, já passou por aquilo. Ele é sério, pragmático, transparente, trabalhador, tem essência boa, tem tudo para dar certo. Vão ter cascas de banana pela frente. A Copa América será difícil, as eliminatórias também. O importante mesmo é a Copa do Mundo, as outras competições são relativas. As cascas têm de tirar da frente. Não é nenhum fantasma, mas estamos há 12 anos sem ganhar a Copa. Não é fácil.

ESPN - O que são as cascas de banana?
CAP - São derrotas. Coisas que acontecem, mas Marin disse muito bem na entrevista, que tem de ter continuidade até a Copa de 2018, tem de manter até a próxima Copa. O Dunga falou bem sobre a Alemanha. Não é de agora que eles estão bem. Os alemães não iam para a final desde 2002. É a primeira final que o Joaquim fez, o primeiro título. Isso que a gente tem que copiar, o que eles fizeram a gente tem de fazer.

ESPN - Como você está depois da Copa?
CAP - A minha maior motivação era estar na seleção na Copa do Mundo no Brasil. Eu vejo as confusões dos clubes e não me motivo mais tanto. Vejo o Flamengo, por exemplo. Esse dia a dia eu sinceramente não sinto falta. Você não imagina o quanto tudo isso é duro. Estou na fase de aproveitar e dar mais valor para a família. Quero curtir esse momento. Quando aparece um convite como esse você não pode dizer não. Tem de arriscar, ingressar em projetos. A vida continua. Foi uma perda, parecida com uma perda familiar, é verdade, um pouco menor, mas a vida segue

ESPN - O que você disse aos jogadores logo depois da eliminação?
CAP - Disse isso também. A vida continua. Foi só uma pausa para o sonho que eles estão correndo atrás, de conquistar uma Copa do Mundo. Disse apenas que a viagem que eles embarcaram mudou de lugar e de época, mas ela ainda existe. No relatório que fizemos, falamos disso, do quanto é difícil ganhar uma Copa.

ESPN - Marin falou na entrevista sobre mudar a Granja Comary para dar possibilidade de treinos fechados. Isso fez falta?
CAP - Nós fomos responsáveis pela Granja. Nós insistimos muito para que se investisse nessa reforma. As palavras que Marin disse, de conforto, segurança e privacidade fui eu que falei pra ele. Falaram que ficou muito exposta. A privacidade fora do campo foi perfeita. Nós já tínhamos falado de melhorar, colocando muros e grades. Se não puder colocar uma lona, tem de estudar a melhor maneira. O Felipão não quis fechar, mas havia essa possibilidade. Ninguém teria visto. Mas ele não quis fechar. Tem de melhorar isso aí, sim. Nós já tínhamos falado sobre isso. Eu acho que não fez falta treino fechado. Ele não quis. Mas é verdade que qualquer esporro fica muito exposto. O Felipão não sentiu essa necessidade.

ESPN - Dunga enfatizou que não dará privilégios para ninguém, deixando claro que não haveria uma conversa com poucos jornalistas como Felipão fez. Como você viu o episódio, acha que prejudicou?
CAP - O Felipão é até muito correto nisso, de não passar privilégio para ninguém. Não dá pra dizer se foi certo ou errado. Ele quis conversar com quem ele tinha mais intimidade. Não dá pra criticar, nem elogiar. A gente não perdeu a Copa por causa disso, sejamos franco.

ESPN - Isso irritou a diretoria da CBF. Chegou em vocês?
CAP - Sinceramente, não tem motivo para falar sobre isso. Marin não falou comigo e o Del Nero também não.

ESPN - O que tem no relatório de vocês?
CAP- Ele foi entregue nesta terça-feira. A Granja ficou tão boa, mas tão boa, que muitos querem ir lá. Se você abrir para todo mundo, vai banalizar. Demos opinião sobre isso, por exemplo. Mas não só isso, claro. Tudo que foi feito, planejamento, sugestões sobre o futebol brasileiro. A gente entregou hoje (terça). Não tem nada de novo, todo mundo sabe o que tem de ser feito. Engenheiro de obra pronta é o que mais tem nesse mundo. O difícil é saber como fazer. Inclusive a gente pediu para entregar uma cópia para o Gilmar. Para reforçar a nossa posição sobre tudo.

ESPN - Qual conselho você dá para os novos comandantes?
CAP - Primeira coisa é a seleção brasileira, não perder o foco e também pensar no futebol brasileiro. Não existe seleção forte com clube fraco. É a realidade do futebol.

ESPN - Você conhece bem a dupla Gilmar e Dunga, acredita que vai dar certo?
CAP - Acho que pode dar certo. O projeto é grandioso. Mudar o futebol brasileiro demanda muito tempo. O Gilmar tem de fazer isso mesmo, acompanhar a base, mas ter uma equipe de trabalho, mas se concentrar com o Dunga na renovação do futebol brasileiro. Não é a seleção, é o futebol brasileiro. Tipo, calendário. Tem coisa mais complexa que o calendário do futebol brasileiro? Não. Precisa de mais conforto nos estádios, jogos atraentes, campeonatos mais legais. Nosso calendário é muito apertado. Com 12 meses, tudo se comprime. Ele se baseia em três pilares: político, técnico e financeiro. Conciliar isso aí é uma coisa para gênios. Requer um fórum com todo mundo junto participando disso. Eles têm competência pra isso. Gilmar é muito ligado e conhece futebol. O Dunga foi pra três copas, duas finais, levantou a taça.

ESPN - Ficou alguma mágoa com a CBF?
CAP - Nenhuma, de jeito algum. Quando você ganha, você tem de sair. Dificilmente você repete o feito duas vezes seguidas, só duas seleções conseguiram isso. Se quando você ganha você sai, quando não ganha não tem discussão nenhuma. Tem de sair e pronto. Foi a decisão certa. Mas te juro que não conversamos sobre isso antes da Copa, nem durante. É uma coisa que você tem de deixar acontecer. A gente não sabia se queria ficar ou se queria sair. Mas hoje vejo assim. É importante dizer que a CBF fez tudo que podia para nossa preparação, não há o que dizer, com toda a liberdade.

ESPN - Dunga era o nome ou você acha que tinham outros? Por que não o Tite?
CAP - Esse cargo é da confiança de quem dirige. É de competência, claro, se não não chega lá. Mas na hora da escolha prevalece a confiança de quem comanda. O Tite teria condições, claro, era um grande nome, mas quem decide é o presidente.

ESPN - Alguma mágoa com o Alexandre Gallo?
CAP - Desde que ele entrou, a direção era clara para que ele fosse o treinador. Isso já estava pré-estabelecido. A gente entra num terreno muito nebuloso para falar sobre mágoas. O Gallo foi levado lá por nós e eu tenho certeza que ele é muito correto. Se fez algumas coisa, não fez nada de próposito para prejudicar o Felipão.

ESPN - Como você enxerga um empresário na função de coordenador?

CAP - Acho que o Gilmar deixou muito claro isso na coletiva. O ex-empresário Gilmar. E Marin também. Quando alguém é escolhido, a vida toda é revistada, revirada. E não acharam nada.

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