"Vivo ou morto, você vem comigo".
Lembra da frase sempre dita por Robocop, um dos mais famosos personagens dos filmes de ficção dos anos 90? Pois ela poderia muito bem ser usada pelo meio-campista Francisco Avani Figueiredo, mais conhecido como Chiquinho, do Santo André.
Aos 25 anos, ele já sofreu uma infinidade de lesões graves e passou por sete cirurgias. Além disso, levou um tiro durante um assalto e por pouco não morreu. Os médicos preferiram não tirar a bala, e, por isso, ele joga com o projétil alojado a 2 cm do coração.
"Rapaz, me chamam de tanta coisa... Chiquinho Bala, Sete Vidas, Duro de Matar, Bruce Willis do ABC, Robocop...", brincou o atleta, em entrevista à Rádio ESPN, antes de lembrar do dia em que foi baleado em um assalto.
"Parei num farol e o cara anunciou o assalto, daí o carro estava engatado e acabou dando um tranco. Ele achou que eu fosse reagir e atirou. A bala entrou na costela e ficou alojada a dois centímetros do coração. Os médicos resolveram não tirar. Eu penso nisso todo dia, agradeço a Deus por ter uma nova oportunidade na vida", contou.
Já as cirurgias foram principalmente no joelho, vitimado por inúmeros rompimentos de ligamentos. A primeira foi em 2005, e aparentemente havia solucionado seu problema. No entanto, a situação foi bem diferente.
Em 2009, ele sofreu uma nova lesão grave e teve que ser operado de novo. Nos últimos cinco anos, machucou-se outras cinco vezes, tendo que passar por cirurgia em todas. Desde 2010, Chiquinho não consegue jogar os 90 minutos de uma partida de futebol.
Seu último procedimento, contudo, parece ter resolvido de vez o problema. Depois de seis meses de recuperação, e o atleta agora quer deixar as lesões no passado e voltar a atuar em 2015.
"Os médicos me passaram que tive um problema de crescimento e um osso cortava o ligamento. Agora, foi feita a raspagem, e está tudo certo. Fiz três meses de recuperação no CT do Corinthians, que tem uma estrutura incrível, e estou pronto para voltar", relatou.
Para aguentar a pressão psicológica de ter que ficar tanto tempo sem jogar, Chiquinho contou com a força da família e também com livros de auto-ajuda. Seu favorito foi escrito pelos norte-americanos Dick e Rick Hoyt, pai e filho que têm uma famosa história de superação.
"Sempre que posso, leio o livro 'Devoção', que conta a história do pai que corre triatlo e maratona empurrando a cadeira de rodas do filho. Mesmo com tudo que passam, sempre levam um sorriso no rosto. Lendo esse livro, eu pensava: 'Vou superar, não vou desistir'", afirmou.
"Amigo" do "Fenômeno" e proposta do São Paulo
Revelado pelo próprio Santo André, clube no qual jogou com Ricardo Goulart, hoje no Cruzeiro e Bola de Ouro do Brasileirão, Chiquinho "Bala" também passou pelas bases de Portuguesa e São Caetano antes de chegar ao "Ramalhão".
Na infância, quando ainda jogava em um projeto social no ABC paulista, conseguiu conhecer um de seus ídolos no esporte: o ex-atacante Ronaldo, o "Fenômeno".
"Eu jogava num projeto na comunidade do Capuava, em Santo André, que era da Inter de Milão, e o padrinho era o Ronaldo 'Fenômeno'. Um dia, ele veio aqui visitar a sede do clube e ver a garotada, eu tinha 9 anos e estava no meio, até tirei uma foto com ele e a turma toda. Foi emocionante, nunca esqueço! Muitos anos depois, ainda pude enfrentar o Ronaldo num Santo André x Corinthians, em 2009", recordou.
2009, inclusive, foi o melhor ano de sua carreira. O meia teve ótimas atuações no Campeonato Paulista e por muito pouco não foi jogar no São Paulo. No entanto, sua grave lesão no joelho acabou fazendo a equipe do Morumbi desistir do negócio.
"Eu recebi uma proposta do São Paulo após o Paulistão, estava quase tudo certo. Eles tinham interesse em mim até eu me contundir", revelou.
No entanto, Chiquinho não se abala com a oportunidade perdida. Com o a cabeça e o joelho no lugar, ele só pensa em voltar a entrar em campo e completar os 90 minutos depois dos cinco longos anos que passou na mesa de cirurgia e nas salas de fisioterapia. Para o ano que vem, garante estar "100% liberado" para jogar a Série A-2 do Paulista com o clube paulista.
"Eu tenho só 25 anos, apesar de tudo o que já aconteceu comigo. Meu sonho é voltar a jogar. Estou conseguindo treinar, e agora quero jogar bem com a camisa do Santo André, para retribuir todo o apoio que o clube a torcida me deram", disse.
Quem sabe um dia o Robocop possa escrever seu próprio livro de auto-ajuda.
Sem sombra de dúvidas, dois grandes exemplos de superação no futebol e na vida, Chiquinho E Ronaldo Fenômeno. Que Deus continue os abençoando.
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