Ainda sem treinador para a próxima temporada, o Corinthians agora vive um turbulento momento político, faltando dois meses para as eleições presidenciais. Com pelo menos três candidatos concorrentes para o cargo hoje ocupado por Mario Gobbi, o clima promete esquentar ainda mais nas próximas semanas. Vice-presidente da atual gestão, Luis Paulo Rosenberg deixou a situação ainda mais confusa, na semana passada, quando decidiu anunciar publicamente seu apoio a Antônio Roque Citadini, da oposição.
Infeliz com o momento que vive o clube, tanto dentro quanto fora de campo, o ex-diretor de marketing do mandato de Andrés Sanchez, um dos responsáveis pela contratação de Ronaldo Fenômeno, defende uma urgente alternância de poder no Parque São Jorge, sendo contra o voto para Roberto de Andrade, candidato da situação, quem ele disse que foi "omisso" no tempo que ocupou a diretoria de futebol.
"Eu estou com medo de que aconteça no Corinthians o que está acontecendo no governo federal. De repente o PT se encastela lá e não tem mais troca. E aí você vê o que acontece quando só os amigos partilham do poder ali. A troca de poder é sempre positiva", disse, em contato com a reportagem.
"Eu gosto muito dele (Roberto) como pessoa física. Fez um trabalho importante no administrativo. Mas foi um diretor de futebol omisso, tudo ficou nas costas do Duílio [Monteiro Alves, ex-diretor adjunto]. Não acho que foi competente e não vejo nele condições de ser presidente do Corinthians. O presidente precisa ter uma legitimidade externa, perante à CBF, e principalmente, perante ao empresariado", completou.
De acordo com Rosenberg, o Corinthians precisa tirar o 'entulho' que tem lá dentro do clube, contratar um técnico por pelo menos cinco anos que possa ajudar a acabar com a 'sacanagem' que existe. Segundo palavras do economista, as negociações de jogadores são a Petrobrás do futebol, que também precisa ser eliminada.
"Todo menino quer jogar no Corinthians. O novo técnico tem de ajudar a construir a base. Com isso, cai a folha salarial, por exemplo, caem os gastos com contratações e, claro, cai a putaria que tem em volta das negociações de jogadores, que é a doença do futebol, a Petrobrás do futebol brasileiro", afirmou o vice do Corinthians.
"A única coisa que parece realmente importante é que venha para ficar cinco anos, que tenha uma estratégia, que faça integração com a base, que limpe a sacanagem, que entenda que ele não está vindo só para treinar um time de futebol. Ele está vindo para liderar uma nação de 30 milhões", prosseguiu.
Luis Paulo Rosenberg ainda falou de outros assuntos, como a renovação do contrato do Guerrero, que ele vê como absurda pelo preço, a influência de Andrés Sanchez no Parque São Jorge, a necessidade de unir a oposição para impor uma derrota para a atual gestão. Veja abaixo, os principais trechos.
Apoio ao Citadini
Eu acho que é uma carreira construída dentro do clube, com dignidade e dedicação. É uma pessoa respeitada e preparada. Ele tem várias qualidades para ocupar o cargo que eu não vejo em outros candidatos.
Ruptura com a situação
Eu me vejo como parte de um grupo que se uniu juntando pessoas para derrubar um ditador e começar um novo momento com transparência e renovação. Com uma governança competente. E eu continuo fiel a esses ideais. Eu acho muito saudável que tenha um novo grupo lá dentro. Eu não acho que o Corinthians se divida entre situação e oposição. A gente tem corintianos e não corintianos. Infelizmente, desde a vitória do Mundial a gente tem visto uma deterioração.
Eu fico muito triste com isso. E eu senti que não tinha condições de governabilidade e por isso eu me afastei. O Corinthians precisa de muito talento nessa hora. Não tem espaço para ambições pessoais. Não é possível que alguém que levou o clube de campeão do mundo para quase série B em um ano tente ser candidato. Não é possível que alguém que foi rechaçado três ou quatro vezes queira também. Vamos procurar quem performou e queira esse desafio. Esse nome é o do Roque Citadini.
Comparação da gestão Dualib com pós-Dualib
É outro momento. O fato de o estatuto do Corinthians permitir eleição já muda o cenário. É um Corinthians mais moderno. Temos que usar o estatuto para garantir a democracia. Eu estou com medo de que aconteça no Corinthians o que está acontecendo no governo federal. De repente o PT se encastela lá e não tem mais troca. E aí você vê o que acontece quando só os amigos partilham do poder ali. A troca de poder é sempre positiva.
Influência do Andrés
169 mil paulistas resolveram esse problema (da influência que o Andrés ainda tem no Corinthians). Ele não sabe o que é ser deputado federal por São Paulo. Ele não vai ter tempo para nada. É isso que torna ainda mais importante a escolha de um presidente mais completo.
Como foi a reação do Andrés e do Mario?
Sempre houve muito respeito entre nós três. Entre eu e o Andrés é muita clara essa separação. Nossa amizade é muito forte. É uma das pessoas com quem tenho mais afinidade lá dentro, um irmão. Mas a postura política é outra. Eu não tenho compromisso com grupos, eu tenho compromisso com a grandeza do Corinthians. Gastei cinco anos da minha vida para construir um novo patamar de qualidade lá dentro e vou continuar apoiando quem fizer isso.
E eu não vou continuar, estou só dando a minha contribuição e vou embora. O clube só precisa de respeito e colaboração. Com o Mario, minha relação sempre foi muito fraternal e muito profissional. Não temos o mesmo estilo de gestão, por isso eu me afastei para que ele ocupasse o espaço de presidente, sem ter um vice a todo momento dando palpites. Já chega ter um ex-presidente para cutucar. Só faltava ter um vice-presidente por baixo também.
Quais foram os principais erros?
É cedo para avaliar. Eu me sinto parte ainda desta gestão, desse processo. A gente pode analisar que houve uma decadência. O debate eleitoral vai ajudar nisso.
O que é a ação entre amigos que tem no Corinthians hoje?
A dominância de um grupo só faz com que as mesmas pessoas façam a mesma coisa sempre. Nem sempre o interesse do clube permanece. Vamos chacoalhar para tirar o entulho e fazer o Corinthians disputar as coisas que merece. Vamos embora. Não dá para ficar fazendo contas se o Corinthians vai pra fase de grupos ou não. Não tem cabimento isso para o Corinthians. Isso aqui é Corinthians.
Na carta, você fala de pessoas que se servem do Corinthians. Quem são esses?
Ao longo das próximas semanas, muitos vão vestir a carapuça e a gente vai ficar sabendo. De forma geral, o importante é que venham pessoas participar da diretoria. Na medida em que a participação é gratuita, já que não é uma empresa, que ela seja feita com amor e empenho. E a pessoa tem que saber que é uma coisa transitória. Não pode criar vínculos eternos lá dentro. Não faça que o Corinthians dependa de alguém. Não pode ser assim. Ou então é melhor transformar numa S.A. e aí sim faz o que quiser com ela.
Na medida em que é um trabalho de sacrifício, com muito prazer ao mesmo tempo, tem de ser transitório. Eu acho isso muito importante. Ou você faz o time virar empresa e trata ele desse jeito, e toma punição nas costas quando deixa de pagar impostos ou fizer algo de errado, quando permitir uma negociação danosa para o clube, por exemplo, ou então tem de ter renovação. Cada um da um pouquinho e muda o tempo todo, sem ter donos no clube. O Corinthians é maior do que isso.
O Corinthians tem dono hoje?
Aparentemente, sim. Faz quatro gestões que nada muda lá dentro. As indicações são feitas tirando do bolso do colete.
Como você vê o Roberto de Andrade?
Eu gosto muito dele como pessoa física, que fez um trabalho importante no administrativo. Mas foi um diretor de futebol omisso, tudo ficou nas costas do Duílio [Monteiro Alves, ex-diretor adjunto]. Não acho que foi competente e não vejo nele condições de ser presidente do Corinthians. O presidente precisa ter uma legitimidade externa, perante à CBF, à federação paulista, e principalmente, perante ao empresariado.
Se você não tem uma diretoria que passa confiança para novos parceiros, não vai dar certo. Uma Perdigão, por exemplo, não vai querer estar lá dentro. O Corinthians tem de crescer. Ele é uma entidade nacional, com uma demanda de zelo e cuidado muito grande. E eu não vejo isso nesse pessoal, de jeito nenhum.
Como o Citadini recebeu o seu apoio?
É interessante. Ao longo dos anos, eu sempre tive uma posição antagônica com o Citadini. Nada pessoal, mas sempre tivemos posições diferentes. Mas eu sempre admirei a forma como ele conduziu tudo isso. É um relacionamento profissional. O que eu fiz foi dar um empurrão. Ele ainda não formalizou. Ele ficou muito contente. Quando isso vem de um adversário tem mais valor do que quando vem de um aliado. E acho que pode ser uma forma de unir todas aquelas pessoas no clube que estão desanimadas, desapontadas e desiludidas. Espero que elas se animem e que essa candidatura sirva como um farol para a renovação do Corinthians.
Muita oposição é ruim?
É muito ruim. Principalmente pelas similaridades. O Ilmar [Schiavenatto, outro candidato] é uma pessoal com quem eu trabalhei e tem muito cuidado com o clube, é de muita credibilidade, muita confiança do quadro associativo. Ele seria um ótimo vice-presidente e ajudaria muito na chapa do Roque. Se o Paulo entendesse o momento político seria um ato de grandeza também, bem capaz, aliás, de vir de uma pessoa como ele. Tem outros cargos grandes no Corinthians para uma pessoa como ele assumir dentro lá dentro. Sua pergunta é muito pertinente. Se os três se unirem, a chance é grande para um Corinthians unido.
Sua próxima carta vai ser para o Ilmar, então?
(Risadas). Chega. Já dei minha posição. Não me mantive omisso. Não vou eu querer ser o padrinho das soluções para o Corinthians.
Impostos atrasados
Na gestão do Mario, minha responsabilidade era maior do que só olhar para o marketing. Eu tinha de cuidar de toda a parte de dinheiro. Eu cheguei, a situação estava difícil, o dinheiro era curto. Dentre os pagamentos que não poderiam ser honrados, a gente tentou fazer que os impostos não estivessem entre eles. Aquele momento de atrasos foi transitório, não faz parte da filosofia do Corinthians.
É muito óbvio que a gente tenha de zelar pela saúde financeira do clube. Quando se fala dos valores da negociação do Guererro, isso não vale nem para um exército inteiro, tampouco para um guerreiro sozinho. Nessa parte de finanças, é importante sempre ter um chato do setor financeiro para falar essas coisas e fazer essas lembranças. Eu tenho certeza que será essa a prioridade do Citani e isso jamais aconteceria na gestão dele.
O Paulo Garcia e o Ilmar falam que o Corinthians está quase quebrado, você enxerga assim?
Está longe de falência. Falência vai para quem tem patrimônio menor que dívidas. Mas ele vai precisar de uma gestão competente para o próximo mandato. A gente precisa de uma gestão responsável, que não saia repatriando qualquer jogador para colocar no Corinthians, sem contratações loucas e, principalmente, que prestigie a base. Todo menino quer jogar no Corinthians.
O Corinthians tem condições de falar: "vem jogar aqui". Eu não quero uma porcentagem, eu quero que o Corinthians tenha de ficar com no mínimo 80% do jogador. Aí sim, avisar o treinador que é filosofia do Corinthians fazer os meninos da base subir. Não adianta vir me pedir para contratar a seleção brasileira. Tem de ajudar a construir a base. Com isso, cai a folha salarial, por exemplo, cai os gastos com contratações e, claro, cai a putaria que tem em volta das negociações de jogadores, que é a doença do futebol, a Petrobrás do futebol brasileiro. Então, esse é o que de principal a gente tem de exigir do próximo treinador e do próximo presidente. O Roque defende isso há muitos anos.
Você acha que a 'Petrobrás' está na base?
Eu acho que está nas negociações de jogadores. Na base e nas contratações de jogadores para o profissional. Na entrada de investidores que caem do céu. De repente, um intermediário está com 30% de um jogador. O que é isso? A vitrine do Corinthians é o patrimônio mais alto que existe no futebol brasileiro. E eu boto um jogador para jogar lá e o Corinthians não fica com nada? Isso tem de mudar. Tem que tirar todo mundo que está lá dentro e colocar gente nova.
Isso faz parte da ação entre amigos que você comentou?
Nada definiria melhor uma ação entre amigos do que isso.
Quem você gostaria de ver como técnico?
Você sabe a minha filosofia. Quem quer que seja será o melhor técnico do mundo. Eu vou torcer por ele. A única coisa que parece realmente importante é que venha para ficar cinco anos, que tenha uma estratégia, que faça integração com a base, que limpe a sacanagem, que entenda que ele não está vindo só para treinar um time de futebol. Ele está vindo para liderar uma nação de 30 milhões.
Relação com torcidas organizadas
Eu acho que a torcida tem de ser respeitada. Ela tem um papel importante. Várias vitórias não teriam acontecido sem a torcida organizada. Mas acho muito importante que fique claro os papeis. Eles não são os donos do Corinthians, eles são clientes preferenciais. Tem de ter o espaço deles e se nesse espaço eles não querem cadeira, não tem problema nenhum. Eu acho justo. Mas eu não dou cobertura para criminoso.
Eu programei o estádio para ter um sistema de identificação para quem está proibido de ir. Tem de separar o joio do trigo. Prestigiar a família no estádio. Sem jamais acobertar criminosos, nem vantagens especiais. E mais, sem permitir que eles se sintam donos do clube, juízes, executores. Uma relação realmente entre duas entidades.
Será que da para acreditar? Somente o tempo pode mostrar.
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