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12 de julho de 2016

O FIM DO PAÍS DO FUTEBOL

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Quase todos os meninos de décadas passadas sonhavam em ser um grande jogador, defender sua seleção e ganhar um título com seu time e uma Copa do Mundo.

Há alguns anos atrás, as cidades brasileiras possuíam esta realidade, contemplando espaço para se praticar esporte e em especial o futebol. Jogava-se bola nos campos de várzea, nas calçadas, no chão batido, em qualquer espaço livre, existiam crianças brincando e, consequentemente, os jogos de futebol aconteciam.

Porém, nos últimos anos essa realidade não se apresenta mais em função da mudança de hábito dos brasileiros. Freire (2003 p.__) afirma que "Dos campinhos de pelada saíram os Didis, os Garrinchas, os Gersons, os Romários", dentre outros atletas com habilidades e performance acima da média.
Após o crescimento urbano essa realidade mudou, foram desaparecendo os campinhos e as peladas, e gradativamente a prática esportiva também. Uma pesquisa feita no bairro de Pirituba comprovou que, apenas nessa região de São Paulo, perdeu 40% de seus campos e espaços para prática do futebol e o Estado seria responsável por suprir essas perdas. Porém, na mesma proporção em que os campos são ocupados por prédios e outros empreendimentos, as escolinhas particulares de futebol se espalham pelo bairro e atendem as classes mais altas, fazendo com que o futebol, que antes era o esporte acessível e inerente a qualquer classe social deixe de ser praticada por crianças de famílias mais humildes.
Alinhado a essa afirmativa citada acima, um estudo da Unicef sobre o esporte no Brasil também ressaltou outro fator importante, as crianças no Brasil têm menos amigos e contato com menos crianças do que antes. Isso ocorre por diversos fatores, não existem áreas comum para o relacionamento, as crianças estão cada vez mais dentro de suas casas, suas saídas geralmente são para escolas, cursos e passeios com os pais.  Não existe interação com crianças de outra realidade financeira de outros níveis sociais, com esse isolamento acaba sendo um grande problema para o esporte já que as crianças Brasileiras estão se isolando cada vez mais, com menos contato existe menos troca de experiências de vida e de futebol, algo fundamental e de muita importância para crianças crescerem com menos preconceito e vendo todos como iguais, já que o futebol permite esse sentimento. Não importa quem tem mais dinheiro, a melhor bola e chuteira, isso não é um fator determinante para quem vai ser o melhor jogador, na hora do jogo sempre se destaca o mais habilidoso, o mais rápido e geralmente as crianças que jogam o futebol mais simples sem muito peso e professores cobrando são os que mais se destacam, apesar de não possuírem as mesmas condições de desenvolvimento do esporte.
Outro fator que demonstra a mudança de hábito dos brasileiros, em pesquisa realizada pela USP em 2014 chegou à conclusão que o esporte já é menos praticado do que esportes aeróbicos como ginastica e corrida. Percebe-se que o grande problema do futebol brasileiro hoje é quem vem diminuindo cada vez mais e de maneira mais rápida os espaços para as crianças e adultos jogarem o futebol, um esporte tão simples, que não precisa de muito para ser praticado, mas infelizmente não existem mais campos e quadras como antes, muito menos aquele futebol na rua responsável por formar grandes jogadores do futebol Brasileiro.
Esses espaços são fundamentais para as crianças lá elas se desenvolvem motoramente, elas montam os times, armam o campo e utilizam qualquer coisa como bola, durante essas partidas as crianças desenvolvem sua liderança e formam laços de amizade e respeito com o próximo, sonham e tentam jogar como seus ídolos, cada um pode ser quem quiser, impossível de se fazer em uma escolinha com um horário e regras definidas. Existem também brincadeiras que não são apenas uma partida, 3 dentro e 3 fora, linha, golzinho, bobinho, que ajudam na habilidade e na capacidade de pensamento rápido da criança.
Com a escassez de espaço vemos cada vez mais em grandes centros escolinhas de futebol que prometem criar verdadeiros craques, o que não passa de utopia para pais iludidos e filhos sonhadores e que se apresentam como fundamentais no processo de formação de novos profissionais esportivos (Fensterseifer apud Saad; Rezer, 2005).
Treinadores e especialistas afirmam que as crianças chegam cada vez mais duras e cheias de bloqueios quando chegam aos clubes brasileiros vindo de escolinhas, lá os jovens não desenvolvem o futebol de maneira lúdica que é o mais indicado para crianças até os 12 anos, quando jogam sem definir uma posição ou sem regras do que podem fazer, elas se tornam mais ousadas e com muito mais recursos para praticarem o esporte. Nota-se que há nas escolinhas uma cobrança e muita pressão em cima das crianças de pais e professores que as cobram e até mesmo as castigam quando cometem erros, cobram das crianças mais individualidade e as forçam a querer aparecer mais que os outros colegas, até mesmo os do próprio time são vistos como adversários, isso acarreta no desconforto e na falta de interesse das crianças de participarem das atividades.
Korsakas & Rose Júnior (2002) relata que o esporte praticado por crianças em clubes não se difere muito da prática adulta de rendimento, comportamentos condenáveis como técnico maltratando os atletas por erros cometidos, são diagnosticados nas escolinhas de iniciação esportiva.
As escolinhas também fazem o seu mal papel ao venderem para os país a imagem de preparar o filho para jogar em um clube grande, com isso os sonhos passam a ser mais dos adultos do que mesmo das crianças. Vende-se a ideia de que possuem muitos contatos com clubes e empresários e que ali seus filhos podem se tornarem craques e ficarem ricos. Porém, é sabido que do total de crianças que participam de testes nem 1% é aprovada ou vão realmente se tornar jogadores profissionais. Sendo assim, o futebol e essas escolinhas podem oferecer muito mais que esse sonho, é possível ajudar a moldar a personalidade da criança, fazer com ela conheça o futebol e com isso ame e acompanhe cada vez mais o esporte, o sonho de se tornar um jogador profissional deve pertencer apenas a criança, sem privá-la de nenhum de seus direitos constitucionais.
O esporte é sem dúvida um dos melhores meios de convivência humana, lazer, saúde e competência desportiva e contribui fundamentalmente para o desenvolvimento social das crianças. As crianças gostam do esporte, porque permite que estejam com seus amigos e possam fazer novas amizades e é justamente a possibilidade de fazer parte de um grupo que irá permitir às crianças e aos adolescentes o seu desenvolvimento ético.  Estudiosos de diversas áreas chegaram à conclusão que crianças e adolescentes praticam algum tipo de esporte para se inserirem em algum grupo, serem aceitas na sociedade e essa talvez seja a maior necessidade humana, independentemente de seu estágio de vida. Outros estudos afirmam que jovens começam a praticar o esporte afim de se especializar e vislumbrar a realizar o seu sonho de se tornar um atleta profissional.
No caso do futebol no Brasil, o primeiro presente de um menino é uma bola de futebol. Quando ele começa a ter uma pouco mais de entendimento do esporte, começa a praticar com familiares, vizinhos ou na sua escola, assistir jogos e acompanhar mais o esporte. A partir desse ponto já fazem parte de um time da rua ou do colégio, querem brincar em qualquer lugar, mas com a falta de espaços dentro e fora de suas casas encontram dificuldades para a pratica. Dois entre dez pais afirmam ter tempo de praticar futebol com seus filhos, mesmo os que moram em condomínios fechados com áreas de lazer, que facilitariam a prática do esporte, dificilmente deixam seus filhos menores de 12 anos a usufruírem de áreas comum sem a supervisão de um adulto.
Nelas deveriam estar a grande esperança de continuidade no Brasil, mas não é essa a realidade que se instaura no País. Os jovens brasileiros praticam cada vez menos o futebol até mesmo como forma de lazer, já que esses espaços são cada vez mais raros, nas periferias os jovens não enxergam mais o futebol como antes e buscam em outros lugares a oportunidade para mudarem de vida, preferindo muitas vezes jogar vídeo game.
O mercado de games cresce mais de 32% ao ano, com isso nossos jovens trocam cada vez mais as peladas pelos games. Na mesma pesquisa 70% jovens de 8 a 14 anos preferiram ganhar um vídeo game e jogar em sua casa, do que estar na rua e praticar com seus amigos, esses jogos trazem um universo diferente do futebol, onde ele não precisa sonhar ele pode criar um avatar seu e jogar em qualquer time da Europa, o pior é que os grandes ídolos do futebol incentivam a essa pratica em comerciais dos jogos que se propagam hoje em dia por tabletes e celulares.
Ainda referenciando a pesquisa realizada pela USP no ano de 2014, afirma que 52% das crianças que praticam futebol, enquanto 84% jogam vídeo game. Como consequência, o interesse pelo esporte irá reduzir gradativamente, diminuindo seus praticamente e também o número de bons jogadores e profissionais de alta performance no país. 
Outra pesquisa realizada pela Uper com crianças entre 7 e 15 anos comprovou que as crianças estão muito antenadas e preocupadas com o futuro, suas amizades e a profissão que irão seguir. Os assuntos que mais os preocupam é a violência, as drogas e a pobreza, já na vida particular são as notas no colégio, os mesmos jovens quando questionados sobre o que querem ser quando crescer, a maior parte dos meninos gostam de jogar futebol, porém apenas 45% desses meninos praticam o esporte pelo menos 2 vezes por semana.

Infelizmente o local onde as crianças têm o primeiro contato serio com o esporte não vem recebendo o valor devido no Brasil.
A educação é um direito fundamental de todos os homens, em qualquer lugar do mundo. A palavra vem do latim educatione, nome que os romanos davam ao processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, realizado em escolas e dirigidos por docentes, os principais responsáveis pela formação integral dos alunos. (BRANDÃO, 2007).
É a educação que constrói uma nação justa e igualitária, efetivamente participante na democracia e na vida política (ROSA, 2009).
As escolas, onde a criação tem acesso a educação, é também fundamental para introdução de crianças e jovens nos esportes. O índice de prática de esportes nas escolas brasileiras é o menor da América Latina, ou seja, o Brasil é o que menos investe e propícia essa experiência para as jovens e adolescentes dentre os países da América Latina. Os dados oficias do Censo Escolar 2009 mostram que apenas 19% das escolas públicas e municipais Brasileiras possuem quadras e espaços esportivos, sendo que no Nordeste do Brasil a situação se agrava ainda mais, já apenas 7% das escolas possuem esses espaços, em comparação com o índice brasileiro em que 77% das escolas possuem profissionais especializados em Educação Física.
Alinhado com o posicionamento exposto acima, Miranda (2013), afirma que o baixo índice de praticantes esportivos é motivado por precárias condições de estrutura esportiva e formação profissional deficitária para o desenvolvimento do esporte em escolas e instituições de um modo geral. Com isso, o reconhecimento do esporte como atividade fundamental para as criança, jovens e adultos é prejudicada.
As organizações e associações de futebol poderiam contribuir para a mudança desse cenário, realizando campanhas e políticas públicas que associem a prática e carreira esportiva ao bom desempenho escolar. Contribuindo com isso, com o índice de jovens jogadores que abandonam o estudo, para investir exclusivamente no futebol, permitindo com isso que tenham uma formação paralela ao de jogador de futebol.
Infelizmente não vemos trabalhos e incentivos através do poder publico, clubes, federações e principalmente pela CBF, principal gestora do esporte numero um do Brasil, até leigos conseguem enxergar a queda da qualidade do nosso futebol, com jogos e jogadores de baixa qualidade. Mas o mais preocupante é falta de interesse de nossas crianças e adolescentes pelo esporte e os que acompanham torcem para clubes europeus, é cade vez maior a venda de camisetas e captação de adeptos de clubes europeus no Brasil.               O país do futebol deixou de fabricar os melhores jogadores e agora também está perdendo os seus torcedores, nada está sendo feito e a tendência é piorar cada vez mais, da maneira que está se torna impossível imaginar mudanças no cenário e retomada no crescimento do nosso principal esporte.                                                            
Fonte e Cortesia: EULER VICTOR. 
Concordo em genero e número, infelizmente.
Comentario: Roberto Q. de Andrade.

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