Se antes ninguém dava muita bola para o Querétaro, do México, a situação mudou totalmente depois da chegada do craque Ronaldinho Gaúcho ao time da cidade de 800 mil habitantes. Quem conta é o atacante William, brasileiro que jogou pelo Palmeiras entre 2006 e 2010, passando por empréstimo por clubes como Náutico e Vitória.
REUTERS/Alejandro Acosta
Depois que o jogador eleito duas vezes o melhor do mundo assinou, o Querétaro virou o centro das atenções da mídia, e o assédio dos fãs, homens e mulheres, amigos e rivais. Se antes o time vivia na secura de atenção, Ronaldinho fez chover na horta.
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William Queretaro Santos Laguna Campeonato Mexicano 09/08/2014
"Aumentou muito nossa visibilidade.
Nossos jogos em casa sempre tiveram boa média de público, mas nunca encheu o estádio. Desde que ele chegou, todos os jogos em casa e fora lotaram, porque todo mundo quer vê-lo jogar.
Repórteres de todos os lados vêm a Querétaro, nossos treinos estão lotados. Antigamente, a gente chegava no hotel e tinha cinco, seis torcedores, hoje tem um monte de gente da nossa equipe, do adversário, mulheres, crianças...
Hoje, em todo canto só se fala do Querétaro", garante William, em entrevista à Rádio ESPN.
Há oito meses na equipe mexicana, e com contrato já renovado para mais três anos, o ex-palmeirense é só elogios à chegada do ex-Barcelona ao elenco queretano. No entanto, ele e os outros brasileiros do elenco, como o meia Danilinho, ex-Atlético-MG, e o atacante Ricardo Jesus, ex-Ponte Preta e Atlético-GO, dizem que não acreditaram que a contratação do craque era verdade quando foi anunciada.
"Vieram falar com a gente um dia antes dele assinar. Somos cinco brasileiros, e pensamos: 'Não acredito nisso, não é possível, ele tem proposta do mundo inteiro...' Quando o presidente anunciou que contratou, na hora pensei: 'Rapaz... Não é que era verdade?' (risos) Nem deu pra acreditar! É maravilhoso, porque se trata de um grande jogador, e é uma oportunidade ímpar trabalhar ao lado dele", relata.
Até agora, Ronaldinho fez três jogos pelo Querétaro, com um gol marcado e um pênalti perdido. Os fãs aguardam ansiosamente pelos próximos capítulos da aventura do craque pela terra dos mariachis.
Na entrevista, William também falou sobre a vida em Querétaro, a segunda cidade mais segura do México, Chaves e novelas mexicanas, o mata-mata da Liga MX e o polêmico caso do político que chamou Ronaldinho de "macaco" quando o craque foi apresentado no time azul e preto.
Confira a entrevista de William:
ESPN: Como você recebeu a notícia da chegada do Ronaldinho?
William: Foi uma notícia maravilhosa, pois se trata de um jogador que conheço de ver jogar pela seleção, sempre torci por ele. Por tudo o que ele já conquistou na vida, tudo o que traz, o peso que ele tem, a mídia, a qualidade dentro de campo, para nós, brasileiros do time, foi muito agradável.
ESPN: E como essa contratação impactou no futebol mexicano?
William: O impacto foi imediato. O Ronaldinho foi colocado aqui como a contratação do século. Nenhuma equipe daqui conseguiu contratar um cacra do nível dele até hoje, um campeão mundial, de Champions League, duas vezes melhor do mundo. Nunca teve ninguém desse nível aqui. Ele chegou para abalar o Campeonato Mexicano. Hoje, todos os olhos da imprensa do México e do mundo estão aqui em Querétaro.
ESPN: E como te avisaram que o Ronaldinho seria contratado?
William: Vieram falar com a gente um dia antes dele assinar. Somos cinco brasileiros, e pensamos: 'Não acredito nisso, não é possível, ele tem proposta do mundo inteiro...' Quando o presidente anunciou que contratou, na hora pensei: 'Rapaz... Não é que era verdade?' (risos) Nem deu pra acreditar! É maravilhoso, porque se trata de um grande jogador, e é uma oportunidade ímpar trabalhar ao lado dele.
William: Sim. Foi o primeiro caso de racismo aqui. Até nunca falei sobre isso aqui, porque sou negro e tenho um tratamento de rei aqui, todos me respeitam e me tratam de uma maneira muito agradável. Isso que aconteceu foi um caso raro, nunca passou comigo. Acredito que possa ter sido porque a apresentação do Ronaldinho causou um tumulto gigante na cidade, virou um trânsito enorme. Vai ver o cara acabou se estressando e passando dos limites...
ESPN: Falando nisso, como é a vida em Querétaro?
William: Maravilhosa. É a segunda cidade mais segura do México, se não foi a primeira. É uma cidade excelente, linda, tranquila, muito bem organizada. Tem um pouco de trânsito, mas nada perto da loucura de São Paulo, que é de onde eu sou. Fica a duas horas da capital, 50 minutos de Cancún e outras praias, como Acapulco. Pra se viver, é muito bom, parece o Brasil. Todos são receptivos e adoram futebol. Onde você vai, querem foto, autógrafo, bater papo. Nosso estádio está sempre cheio. Não foi nem um pouco difícil me adaptar. Eu estou aqui há oito meses, não falo espanhol direito ainda, mas me viro bem. Para o Ronaldinho, que fala, vai ser suave. Aqui ainda passa Chaves e novela brasileira, que eles traduzem pro espanhol. Tem novela mexicana também, mas não gostei muito. E no supermercado tem arroz e feijão, igual no Brasil (risos).
ESPN: É verdade que os próprios jogadores do Querétaro pediram fotos e autógrafos pro Ronaldinho?
William: Tentamos tranquilizar a chegada dele, na medida do possível. Tentamos tratá-lo como mais um que estava chegando, mesmo sabendo que ele não é qualquer um.
Procuramos respeitar um limite, até pra ele se sentir à vontade. Ele tem que saber que aqui tem profissionais que querem ajudá-lo também, pra não ficar uma coisa chata de todo mundo ficar querendo foto e autógrafo. Nós vamos conviver todos os dias, ele tem que ver que estamos contentes com a presença dele, e não que queremos bajular. Queremos ajudá-lo, pois temos certeza que ele vai nos ajudar bastante.
ESPN: Agora com Ronaldinho, qual é o discurso? Buscar o título logo de cara?
William: O discurso segue o mesmo. O Mexicano é um campeonato muito equilibrado, e tem mata-mata. Classificam oito, e, depois, tudo por acontecer. Ano passado, o León classificou em oitavo e foi campeão. Pode acontecer de tudo, inclusive com a gente. Nós temos o pensamento de classificar e disputar o título depois, com o Ronaldinho estamos ainda mais fortes nisso. Agora, temos o respeito dos adversários. Temos esse medo que os caras têm dele a nosso favor, e temos que trabalhar pra usar isso.
ESPN: Quais as grandes dificuldades de jogar no México? Qual é o real nível da Liga MX?
William: É um futebol às vezes traiçoeiro, pela questão do clima. Às vezes, a gente joga na altitude e tem dificuldade. Depois, jogamos no nível de mar. Um dia, numa cidade de calor insuportável. Depois, na montanha e no frio. O clima complica bem, no começo senti muito, agora estou mais adaptado depois de oito meses. Em relação à competitividade, é muito grande. Da seleção do México que jogou a Copa (do Mundo 2014), metade joga aqui. Os jogadores não querem sair do país, pois aqui paga bem e em dia, é cômodo ficar aqui, e isso acaba fortalecendo muito a liga. Acredito que dos 20 e poucos (jogadores da seleção mexicana) que foram para o Brasil, uns 15 jogam aqui. Então, você vê a força que tem esse campeonato.
ESPN: Aumentou muito o assédio em cima do time depois que ele chegou?
William: Aumentou muito nossa visibilidade. Nossos jogos em casa sempre tiveram boa média de público, mas nunca encheu o estádio. Desde que ele chegou, todos os jogos em casa e fora lotaram, porque todo mundo quer vê-lo jogar. Repórteres de todos os lados vêm a Querétaro, nossos treinos estão lotados. Antigamente, a gente chegava no hotel e tinha cinco, seis torcedores, hoje tem um monte de gente da nossa equipe, do adversário, mulheres, crianças... Hoje, em todo canto só se fala do Querétaro.
E isto poderia esta se passando aqui mesmo no Nordeste, mas, infelizmente temos torcedores que assumem a presidência de um clube e que usam apenas parte de seu tempo para dar atenção ao mesmo, sem ter conhecimento suficiente para alavancar o futebol, usar ele como uma indústria, uma indústria bem sucedida. É uma pena e vamos vivendo desta maneira, no efeito sanfona, espicha e encolhe ou como querem alguns, sobe e desce.
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