Pouco mais de 20 dias depois de ter sido excluído da Copa do Brasil por conta de atos racistas de alguns de seus torcedores, o Grêmio voltou ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira. Por sete votos a zero, a pena foi abrandada, com a perda de pontos e não exclusão direta da Copa do Brasil como ocorrera na decisão da Terceira Comissão Disciplinar. Como o clube gaúcho já perdera a primeira partida por 2 a 0, em casa, acabou mesmo eliminado da competição, além de ter a multa de R$ 50 mil mantida.
Houve uma grande discussão no fim do julgamento sobre delegar ou não à CBF a decisão de realizar a partida de volta, mesmo que o Grêmio já esteja eliminado. Primeiro, por quatro votos a três votos, não haveria recomendação à CBF e o jogo não seria mesmo realizado. Depois, dois auditores mudaram de voto e preferiram deixar nas mãos da CBF e realização ou não da partida que, na prática, não teria efeitos práticos. No mesmo instante, chegou ao tribunal a informaçãode que a CBF não realizará o jogo.
O julgamento começou cerca de 15 minutos depois do horário marcado e durou pouco mais de duas horas. Inicialmente foram exibidas provas da defesa do Grêmio em vídeo, onde imagens de uma campanha contra o racismo do clube, realizada em 2013, com o jogador Zé Roberto, apareceram. O presidente do clube, Fábio Koff, esteve presente no tribunal.
Em seguida entrou em ação o procurador geral do tribunal, Paulo Schmitt.
De forma contundente, ele defendeu a manutenção da exclusão do Grêmio e pediu, ainda, que a multa de R$ 50 mil aplicada anteriormente fosse majorada e o clube, também, perdesse mandos de campo. Além disso, ele considerou agravante o fato de Aranha ter sido vaiado ao voltar à Arena do Grêmio para novo jogo entre o clube gaúcho e o Santos, posteriormente.
"O que se espera é que esse tribunal dê a mesma resposta a atos como esse que mancham o futebol nacional", disse Schmitt.
Advogado do Grêmio, Gabriel Vieira defendeu o clube gaúcho com a argumentação de que todas ações foram feitas para combater o ocorrido na Arena. Ele citou carta escrita por Luiz Felipe Scolari e enviada a Aranha, as campanhas de racismo e pediu ao tribunal que o Grêmio não deixasse o julgamento com a pecha de racista.
O discurso foi seguido pela defesa do Grêmio realizada pelo advogado do Flamengo, Michel Asseff Filho, que novamente auxiliou os gaúchos na questão. Asseff lembrou que a ação foi realizada por cinco pessoas, identificadas, e que em caso semelhante em jogo do Paraná na Copa do Brasil deste ano houve multa e não exclusão.
"O ato por si só é grave, todo mundo sabe. Agora, cinco delinquentes no meio de 32 mil pessoas não pode resultar na exclusão do clube da competição", disse Michel Asseff Filho.
A partir daí começaram os votos. Primeiramente, o relator do processo, o auditor paulo César Salomão Filho, votou pela perda de pontos e não exclusão direta do Grêmio. Como o time já havia perdido a partida de ida por 2 a 0, a perda de pontos resulta em eliminação e o segundo jogo foi considerado desnecessário. A multa de R$ 50 mil foi mantida.
"Não considero o Grêmio um clube racista. Tenho de votar com a minha consciência. Os fatos estão no processo e são muito claros. Ninguém discute as injúrias raciais cometidas contra o goleiro do Santos", disse Salomão Filho.
Ele foi acompanhado em seu voto pela perda de três pontos pelos auditores Ronaldo Botelho, Décio Neuhaus e José de Arruda. Os auditores Gabriel Marciliano Júnior e Flávio Zveiter também votaram pela perda de pontos, mas com a ressalva de deixar a decisão de realização da outra partida à CBF. O presidente do STJD, Caio Rocha, acompanhou o voto pela eliminação por perda de pontos e não exclusão.
Em relação ao árbitro Wilton Pereira Sampaio e os assistentes, as penas foram reduzidas pela metade. Agora, o primeiro teve multa de R$ 800 e suspensão de 45 dias. Os restantes foram absolvidos.
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