LEGADO Situação financeira de arenas de capitais como Cuiabá e Manaus é preocupante.
Depois de gastar quase R$ 2 bilhões para erguer estádios da Copa do Mundo com o argumento de que também serviriam para revitalizar o futebol regional, Amazonas, Rio Grande do Norte e Mato Grosso começam os seus Estaduais sem a festa prometida.
Times praticamente amadores, jogadores desconhecidos, pouco dinheiro e estádios vazios serão a realidade.
Em Brasília, onde o Estadual começou há uma semana, a situação é ainda mais delicada. O Candangão já teve quase a metade dos jogos com os portões fechados por causa de falta de segurança.
O Mané Garrincha, construído com mais de R$ 1 bilhão, só deve receber a final.
"Nos viramos da forma que dá", admitiu o presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Jozafá Dantas.
Menos de um ano depois do Mundial, o governo fechou o cofre para o futebol local.
Em janeiro, às vésperas do início da competição, o Banco Regional de Brasília (BRB) suspendeu patrocínio de quase R$ 1 milhão aos clubes.
No Amazonas, a realidade não é muito diferente. Os cartolas já anunciaram que só vão jogar a fase final na arena local. Com o início do torneio marcado para o dia 21, as outras partidas serão em estádios modestos.
"Até agora, temos apenas a vontade de jogadores e dirigentes em fazer tudo bem feito", disse o diretor de futebol da Federação de Futebol do Amazonas, Ivan Guimarães.
A entidade negocia com o governo local verba para o torneio --em 2014, o Estado gastou mais de R$ 2 milhões.
"Continuamos conversando na esperança de conseguir uma ajuda", acrescentou.
No Rio Grande do Norte, o presidente da federação, José Vanildo da Silva, reclama da falta de ajuda financeira do governo, mas é otimista. Ele acredita que a edição do torneio, a ser aberto neste domingo (1), terá aumento de público. Mesmo assim, a Arena das Dunas não deve lotar antes da final.
O campeonato do Mato Grosso é o mais simbólico do clima de ressaca pós-Copa.
Principal palco do futebol do Estado, a Arena Pantanal chegou a ser interditada há uma semana em virtude de uma série de problemas, que vão de infiltrações na cobertura a roubo de equipamentos. O estádio será reaberto hoje com menos da metade da capacidade numa rodada dupla com quatro times.
Mesmo assim, os cartolas acham difícil voltar a jogar lá antes da final por causa do alto custo, estimado em cerca de R$ 100 mil por partida.
Além do estádio, Cuiabá é um canteiro de obras inacabadas da Copa. A ampliação do aeroporto não foi concluída. Pelas ruas da capital é possível percorrer quilômetros ao lado das obras abandonadas do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Orçada em mais de R$ 1 bilhão, a empreitada é cercada de denúncias de desvios de recursos.
As quatro capitais foram escolhidas pela Fifa após pressão de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e um dos responsáveis pela organização da Copa.
Em 2010, o TCU (Tribunal de Contas da União) já havia alertado que os quatro estádios corriam risco de virar "elefantes brancos".
No relatório, as arenas foram identificadas como obras que dificilmente cobririam os custos de manutenção depois da realização da Copa.
Atualmente, os governos de Brasília, Mato Grosso e Amazonas tentam se livrar do alto custo dos estádios. Todos planejam cedê-los para a iniciativa privada. Apenas o estádio de Natal é administrado por uma empreiteira.
"É tudo uma vergonha. A Copa foi uma enganação", disse Geovani Benegas, presidente do Operário, um dos clubes mais populares do Estado do Mato Grosso.
Folha
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