Tão
caro por tão pouco!
Nesta
série, em que a PLURI aborda a crise de público nos estádios Brasileiros,
chegamos à comparação entre os preços dos ingressos no Brasil em relação ao
mercado internacional.
A
seguir as principais considerações:
O
Estudo consiste em comparar os preços dos ingressos no Brasil e em outros 15
países, considerando a renda per capita de cada país. Desta forma podemos
mensurar adequadamente o preço dos ingressos em relação ao nível de renda da
população. Nossa pesquisa considerou o
preço médio do ingresso mais barato (inteiro e não promocional) dos clubes que disputam a primeira divisão de
cada um dos 16 países analisados;
O preço
médio dos ingressos mais baratos no Brasil é de R$ 38, equivalente a US$ 19,12.
Quando
comparamos este valor com a renda per capita do Brasileiro (US$ 12.340 a preços
correntes 2012), concluímos que esta Renda permite a compra de 645
ingressos, a menor quantidade na
comparação com os 15 outros países analisados. Isto faz do Brasil o país de
ingressos mais caros do Mundo, em termos proporcionais à capacidade de consumo
da população;
Na
média dos 16 países analisados, a Renda per capita permite a compra de 1.308 ingressos,
103% a mais do que a capacidade de compra de ingressos dos Brasileiros (645).
Ou seja, por aqui o preço do ingresso mais barato é o dobro da média nos principais
países do Mundo;
Em 2º
lugar aparece a Espanha, cuja renda per capita permite a compra de 804
ingressos, mesmo que o preço médio dos ingressos por lá seja distorcido pelos
caríssimos custos de Barcelona e Real Madri. Mesmo assim, os Espanhóis tem um
poder de compra de ingressos 25% maior que os Brasileiros;
Na
Alemanha, onde se disputa um dos melhores campeonatos da atualidade, a Renda
per capita da população equivale ao preço de 1.868 ingressos, terceiro maior
poder de compra entre os países analisados, e o equivalente ao triplo do
verificado no Brasil;
Apesar
de entendermos que o preço dos ingressos não é o único responsável pelo
esvaziamento dos estádios brasileiros, certamente é um dos mais relevantes,
como mostramos em relatório recente (Os 17 motivos para os torcedores não irem
aos estádios
(http://www.pluriconsultoria.com.br/relatorio.php?segmento=sport&id=250
);
Abaixo
alguns argumentos já apresentados em nosso relatório anterior, que apontou a
alta de 300% nos preços dos ingressos
nos últimos 10 anos
(http://www.pluriconsultoria.com.br/relatorio.php?id=256
).
Não
cabe aqui a discussão sobre a futura política de preços a ser praticada nos
novos estádios brasileiros ou uma suposta tentativa de elitização em andamento,
mas apenas uma constatação de que praticamos preços incompatíveis (nos ingressos
mais baratos, é importante frisar) para o tamanho do bolso da população. Ou seja,
oferece-se um produto de qualidade cada vez pior, a preços crescentes, em um
cenário em que as opções de entretenimento para o torcedor são cada vez
maiores;
Alguns
argumentos tentam justificar essa estranha situação. Um deles é a de que os
preços baixos “desvalorizam o produto”. Mas tem algo pior para o futebol do que
um jogo ruim disputado em estádio vazio?;
Outro
argumento utilizado com frequência é o de que são necessários ingressos mais
caros em função do aumento do custo do futebol no período. Ótimo, só esqueceram
de perguntar ao torcedor se ele concorda em pagar essa conta, e está claro que
ele não concorda. Aliás, lembrando sempre que esse torcedor é um cliente;
Há
também o argumento de que o preço tem que ser alto para estimular o torcedor a
se tornar sócio do clube. Isso funciona apenas para uma parcela de torcedores,
e costuma estar diretamente atrelado ao momento do time. Ou seja, quando a fase
é boa, o estádio enche, quando é ruim, volta a ficar vazio. Ingressos
proibitivos não permitem que o torcedor crie vínculos com o time e desenvolva,
com o tempo o desejo de se tornar sócio não apenas pela vantagem financeira,
mas também pela experiência de ir ao jogo.
Com
isso ele se mantém afastado, assistindo de casa, afinal é mais barato e
confortável. E vai se afastando cada vez mais do seu time;
Além da
vantagem do preço, é a perspectiva de não conseguir lugar disponível nos
estádios que leva o torcedor a se associar ao clube. A Europa tem exemplos de
sobra neste sentido;
De
fato, alguns clubes tem sido bem sucedidos em aumentar o preço dos ingressos e
mesmo assim ter alta demanda, é o caso de Atlético-MG e Corinthians. São exceções
que confirmam a regra. A maioria esmagadora trabalha com a rotina de estádios
quase desertos;
Ao
praticar pecos tão altos, o torcedor toma uma decisão racional de consumo,
escolhendo
ir apenas aos jogos mais importantes. Isso explica a grande quantidade de partidas
com público muito baixo, e a presença de público maior em um ou dois jogos, geralmente
as finais, já que nem os clássicos conseguem mais mobilizar os torcedores;
Já que
é possível provar que o torcedor “escolhe” os jogos que ele vai assistir no
estádio (há dados para isso), porque não se pratica uma política de preços agressivamente
flexível no Brasil, ajustando os preços à qualidade e importância dos jogos?
Algo semelhante ao que se faz com o preço das passagens aéreas? Ou, porque não
se faz como é comum na Europa, com classes de jogos com preços diferentes?
Exemplo: jogos comuns de campeonatos estaduais deveriam ter “grande” desconto;
Encher
o estádio deveria ser prioridade total do clube, mesmo que para isso seja necessário
praticar preços de ingressos mais baixos inicialmente. Sabemos que há uma correlação
direta entre interesse de mídia e de patrocinadores, com jogos em estádios cheios
(e o inverso também é verdadeiro, atenção!). Portanto, “casa cheia”
potencializa outras receitas dos clubes. E o aumento da demanda leva à
escassez, que aí sim, permite
o
aumento de preços;
Apesar
do crescimento econômico verificado nesta última década, nunca é demais lembrar
que o Brasil continua a ser um país de salário mínimo de R$ 678, e renda per
capita equivalente a cerca de 1/3 da Européia;
Existe
um preço de equilíbrio que ajusta oferta e demanda de um produto. No Brasil o preço
dos ingressos não é decidido tendo como base nenhum tipo de estudo ou análise mais
profunda (‘pricing”), e sim por uma simples arbitragem feita por dirigentes de federações
e clubes. É certo, porém, que estamos fora desse preço de equilíbrio, não fosse
por isso os estádios não eram tão vazios;
Alguma
surpresa por estádios tão vazios? Veja a tabela:
De
maneira nenhuma, além de que, vemos os mesmos erros de 40 anos atrás, se
repetindo todo os dias de jogos, a desorganização e o amadorismo nos dão a impressão
de que é a inauguração do estádio ou quiçás, o primeiro jogo entre os clubes.
Vejam o que aconteceu no último domingo na Ilha do Retiro, os mesmos atos de
vandalismo, o mesmo quebra quebra, e depredação, até parece que nunca aconteceu
isto antes.
E sobre
o Atlético Mineiro e o Corinthians, terem aumentado os ingressos e ainda
conseguirem aumentar sua audiência, olhem os times que formaram. Tudo isto
mostra que precisamos imediatamente profissionalizar nossos clubes.
Fonte:
Pluri Consultoria/Fernando Ferreira. Foto: Pluri Consultoria. Tradução: Roberto
Queiroz e Roberto Queiroz Junior.
So much for so little!
In this series, in which PLURI discusses the public
crisis in Brazilian stadiums, we arrive at compare ticket prices in Brazil in
relation to the international market.
The following key considerations:
The study is to compare ticket prices in Brazil and 15
other countries, considering the income per capita of each country. Thus we can
measure adequately ticket prices in relation to income level of the population.
Our survey found the average price of the cheapest ticket (integer and
non-promotional) of clubs vying for the top division of each of the 16
countries analyzed;
The average price of cheaper tickets in Brazil is $
38, equivalent to U.S. $ 19.12.
When we compare this value with the Brazilian per capita
income (U.S. $ 12,340 to current prices 2012), we conclude that this income
allows the purchase of 645 tickets, a smaller amount in comparison with the
other 15 countries analyzed. This makes the Brazil the country of most
expensive tickets in the world, in proportion to the capacity consumption of
the population;
The average of the 16 countries analyzed, the income per
capita allows the purchase of 1,308 tickets, 103% more than the ability to
purchase tickets of Brazilians (645).i.e., here the price of the cheapest ticket
is double the average in major countries of the world;
In 2nd place comes Spain, whose per capita income
allows the purchase of 804 tickets, even if the average income there is
distorted by expensive costs of Barcelona and Real Madrid. Yet the Spaniards
have a purchasing power of income 25% higher than the Brazilians;
In Germany, where one of the best race championships
today, the income per capita of the population equals the price of 1,868 tickets,
the third largest power purchase among the countries analyzed, and the
equivalent to three times the observed in Brazil;
While we understand that the price of tickets is not
solely responsible for the emptying of the Brazilian stadiums, is certainly one
of the most relevant, as shown in a recent report (17 The reasons for fans not
to go to stadiums
(Http://www.pluriconsultoria.com.br/relatorio.php?segmento=sport&id=250);
Below are some arguments already presented in our
previous report, which showed a high 300% in ticket prices over the last 10
years (Http://www.pluriconsultoria.com.br/relatorio.php?id=256).
Here is not the discussion about the future pricing
policy being practiced in new stadiums of Brazil or an alleged attempt to
gentrification in progress, but only a finding that prices inconsistent
practice (the cheaper tickets, it is important to stress) for the pocket size
of the population. That is, it offers a product quality worse, the rising
prices in a scenario in which the options entertainment for the fans are
increasing;
Some arguments seek to justify this strange situation.
One is that low prices "devalue the product." But there is something
worse for football than a bad game played in empty stadium.
Another argument often used is that they are needed
most expensive tickets in due to the rising cost of football in the period.
Great, just forgot to ask supporter if he agrees to pay this bill, and it's clear
he does not agree. In fact, always remembering that this fan is a customer;
There is also the argument that the price has to be
high to encourage fans to become a club member. This works only for a portion
of fans, and is usually directly tied to the time of team. That is, when the
phase is good, the filling stage, when it is bad, comes back empty. Tickets
prohibitive not let the fans create linkages with the team and develop, over
time the desire to become a partner not only for the financial benefit, but
also for the experience of going to the game. With that he keeps away, watching
from home, after all it is cheaper and comfortable. And will increasingly
moving away from his team;
Besides the advantage of price, is the prospect of not
getting a seat available at stages leads the fans to join the club. Europe has
plenty of examples in this sense;
In fact, some clubs have been successful in increasing
ticket prices and still have high demand in the case of Atlético-MG and
Corinthians. Are exceptions that prove the rules. The overwhelming majority
works with routine stadiums almost deserted;
By practicing values so high, the fan makes a decision
rational consumer, choosing to go only to the most important games. This
explains the large amount of matches with the public too low, and the presence
of larger public in one or two games, generally the finals, since neither the classics
can mobilize more fans;
Since it is possible to prove that the supporter
"chooses" the games he will attend the stadium (no data for that),
why not practice a flexible pricing policy aggressively in Brazil, adjusting
prices to the quality and importance of games? Something similar to what you do
with the price of airline tickets? Or, why not do as is common in Europe, with
classes of games with different prices? Example: common games of state
championships should have "big" discount;
Fill the stadium should be top priority club, even if
it is necessary to practice ticket prices lower initially. We know that there
is a direct correlation between interest and media sponsors, with games in
stadiums filled (and the reverse is also true, attention!). Therefore,
"full house" potentiates other revenues of the clubs. And the
increase in demand leads to shortage that then yes, allows the price increase;
Despite the economic growth seen in the last decade,
it is worth remembering that Brazil remains a country with a minimum wage of R
$ 678, and per capita income equivalent to about one third of the European;
There is an equilibrium price that adjusts supply and
demand of a product. In Brazil ticket prices are not determined based on any
study or analysis deeper ("pricing"), but by a simple arbitration
made by the leaders of federations and clubs. It is certain, however, that we
are out of this equilibrium price, not was why the stadiums were not empty;
Any surprises for stadiums so empty?
No way, besides that, we see the same mistakes made
since 40 years ago, repeating every day, disorganization and amateurism give us
the impression that it is the inauguration of the stadium or chemistries, and the
first game between the clubs. Look what happened last Sunday in the Ilha do
Retiro, the same acts of vandalism, breaking the stadium installations and predation;
it seems as if it never happened.
And over Atletico Mineiro and Corinthians, have
increased the tickets and still manage to increase your audience, look at the
teams that formed. All this shows that we need immediately professionalize our
clubs.
Source:
Pluri Consulting / Fernando Ferreira. Photo: Pluri Consulting. Translation:
Roberto Queiroz and Roberto Queiroz Junior.
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