Numa tarde-noite do final de novembro de 2001, Ricardo Teixeira
recebeu no escritório de sua casa, no Itanhangá, bairro nobre da zona oeste do
Rio, seu principal aliado: Eduardo Viana. Lacônico, ele comunicou ao então
presidente da Federação Carioca de Futebol a decisão de renunciar à presidência
da Confederação Brasileira. A carta já estava redigida. Teixeira contava com o
aval da família, do ex-sogro João Havelange e da cúpula da FIFA.
As consequências de duas CPIs que investigavam o futebol
brasileiro desde o início de 2000 ainda eram incertas e Teixeira ouviu de
advogados amigos os prováveis desdobramentos das denúncias que o incriminavam.
Temia ser preso.
Esse fato, revelado apenas agora, se manteve em segredo em razão
de um compromisso assumido pelos presentes àquele encontro. O "fico"
se deu após uma manifestação inesperada de Viana, doutor em Direito pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ele interrompeu Teixeira com
furor, improvisou um discurso de defesa que sobressaiu pela eloquência e, num
gesto que mesclou audácia e autoridade, rasgou o documento.
Para Viana, a CBF dispunha de expedientes suficientes para
evitar a condenação de Teixeira. "O Ricardo já estava com toda a mudança
pronta para Miami. Era só comprar as passagens", contou ao Estado o tio
dele, Marco Antonio Teixeira, que na época respondia pela secretaria-geral da
CBF.
Dez anos e quatro meses mais tarde, desgastado novamente com uma
avalanche de denúncias, que o colocavam no centro de escândalos de corrupção,
Ricardo Teixeira optou pela segunda, e definitiva, renúncia. A leitura da nova
carta, em 12 de março deste ano, representou o primeiro ato de José Maria Marin
na presidência da CBF e marcou a mais surpreendente mudança de rumo na história
da entidade.
Desde o início de 2011, Teixeira enfrentava dois sérios
problemas políticos. Um deles, interno. Após oito anos de convivência em
harmonia com Lula, ele notava uma clara intenção de Dilma Rousseff em mantê-lo
à distância. Esse constrangimento crescente imposto pelo Palácio do Planalto
teve seu auge num evento promovido pela FIFA no Rio, em 30 de julho do ano
passado. Num salão improvisado na Marina da Glória, a presidente ignorou
Teixeira e exigiu do cerimonial que os dois não se sentassem lado a lado.
A relação da CBF com o PT começou com algumas indefinições tão
logo Lula chegou ao poder em 2002. Por semanas, Teixeira e seus assessores se
perguntavam sobre como o novo presidente da República reagiria à onda de
denúncias que estampavam a fachada do prédio da CBF e o perfil de seu principal
dirigente. Aos poucos, porém, Lula se posicionou como um parceiro fiel de
Teixeira e o ajudou a trazer a Copa de 2014 para o Brasil. Com Dilma, o canal
direto com o Planalto acabou.
Ricardo Teixeira também vivia acuado por causa de desavenças com
o presidente da FIFA, Joseph Blatter. Os dois travavam uma disputa não
declarada pela sucessão na entidade.
Publicamente, Teixeira apoiava a reeleição
do suíço. Mas a situação se agravou após entrevista do dirigente da CBF
publicada pela revista Piauí, em julho do ano passado. Ao reiterar que votaria
em Blatter, foi imediatamente repreendido pela filha caçula, de 11 anos.
Ingenuamente, ela perguntou ao pai por que tinha mudado de opinião, pois dizia
em casa que seu candidato era o catariano Mohammad Bin Hammam.
"Foi um tiro no peito", resumiu Marco Antonio
Teixeira, adversário político do sobrinho desde que foi demitido por ele da CBF
em janeiro. "Ali, naquele ato falho, o Ricardo passou recibo."
Desde então, Blatter passou a ter um só objetivo em relação a
Teixeira: eliminá-lo do futebol. O dirigente suíço ameaçava facilitar a
divulgação de documentos em poder da Justiça de seu país, os quais poderiam
esclarecer o envolvimento de Teixeira e João Havelange numa transação
fraudulenta entre a FIFA e a empresa de marketing esportivo ISL nos anos 90.
Somavam-se a isso outras denúncias contra Teixeira. A mais
recente refere-se a possíveis desvios de recursos públicos nos contratos de
comercialização do amistoso entre Brasil x Portugal, em novembro de 2008, em
Brasília. Há duas investigações em curso sobre o caso.
Uma sob a
responsabilidade da Polícia Civil do Distrito Federal. A outra corre na 16.ª
Delegacia de Polícia do Rio e apura se o ex-presidente da CBF teria cometido,
neste caso, crimes de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, formação de quadrilha
e falsidade ideológica.
Se em 2001, Teixeira contava com dois escudeiros de peso,
Eduardo Viana e Nabi Abi Chedid, um de seus vices mais próximos na CBF, ele
teve de atravessar o novo período de turbulência praticamente isolado. Viana e
Chedid morreram em 2006. No mesmo ano, o dirigente ensaiou uma aproximação com
Marco Polo Del Nero, a quem convidou para chefiar a delegação do País no
Mundial da Alemanha. Mas passou a se reunir mais amiúde com o atual presidente da
Federação Paulista de Futebol somente no final do ano passado, já diante de um
cenário de perspectivas sombrias.
Alvo de críticas intensas de uma parcela da imprensa, Teixeira
começou a se preparar a partir de agosto de 2011 para deixar o País e se fixar
em Miami, onde possui uma casa de luxo num condomínio em Boca Raton. Primeiro,
se desfez de suas cabeças de gado holandês e de seu pequeno negócio de
laticínios na Fazenda Santa Rosa, em Piraí, interior do Rio. Também vendeu um
lote numa área muito valorizada (Jardim Pernambuco) no bairro do Leblon, zona
sul carioca.
Demitiu funcionários particulares e elegeu José Maria Marin e
Marco Polo Del Nero, agora também vice da CBF, como seus dois grandes
parceiros. Fechou com eles acordo para receber salário como consultor da
entidade - R$ 120 mil por mês - e ainda reivindicou que despesas suas
relacionadas a custos judiciais, entre outras, contassem com o aporte da
confederação.
Teixeira deixou a CBF e também a presidência do Comitê
Organizador do Mundial de 2014, em março, pelo mesmo motivo que redigiu sua
primeira carta-renúncia, em 2001: o temor de ser preso.
Nove meses depois de trocar o glamour de uma agenda repleta de
encontros com políticos e empresários influentes por uma vida mais reservada na
Flórida, faz questão de se manter bem informado apenas sobre os grandes
negócios da CBF - há contratos em vigor com 11 patrocinadores, o que representa
uma receita anual à entidade de cerca de R$ 350 milhões.
O sonho de presidir a Copa e dirigir a FIFA está enterrado. Mas
Teixeira vai continuar a atuar nos bastidores da CBF, a fim de garantir, daqui
a dois anos, a eleição de Marco Polo Del Nero, provável sucessor de José Maria
Marin.
DO INÍCIO AO FIM
1989
Ricardo Teixeira é eleito, pela primeira vez, para presidir a CBF.
Foi alçado ao comando do futebol por influência de seu então sogro João
Havelange. Teixeira substituiu Otávio Pinto Guimarães.
1994
A seleção brasileira conquista a Copa do Mundo nos EUA e, na
volta, a CBF é investigada pela Receita Federal por não ter declarado toneladas
de produtos. O episódio ficou conhecido como o "voo da muamba".
1998
Horas depois de Ronaldo passar mal e ser levado a um hospital em
Paris, a seleção é derrotada na final da Copa pela França por 3 a 0. Boatos
atribuem a Teixeira a decisão de escalar o craque, o que foi desmentido por
toda a comissão técnica da equipe.
2000
O Senado e a Câmara Federal instalam CPIs para investigar o
comando do futebol do País.
2001
Temeroso com as consequências das duas CPIs, Ricardo Teixeira
redige sua primeira carta-renúncia, documento que é rasgado em sua casa pelo
então presidente da Federação de Futebol do Rio, Eduardo Viana.
2002
O Brasil obtém outro título mundial na gestão de Ricardo
Teixeira: vence a Copa da Coreia do Sul e Japão.
2007
Em 30 de outubro, o Brasil é confirmado pela FIFA como sede da
Copa de 2014.
2012
Teixeira renuncia à presidência da CBF em 12 de março. José
Maria Marin o substitui.
Como todos podem ver acima, os desmandos e desvios já aconteciam
muito tempo atrás, e até mesmo o enriquecimento dele que nunca foi devidamente investigado
pela Receita e pela Policia Federal, o que nos mostra que ladrão de supermercado tem
muito mais importância que um ladrão de colarinho branco, nesse País.
Certamente de que as coisas continuam na mesma linha, ou tem alguém que prove
o contrário. Duvido.
Por LEONARDO MAIA ,
SÍLVIO BARSETTI , TIAGO ROGERO- estadao.com.br Foto: Divulgação.
Comentário: Roberto
Queiroz. Tradução: Roberto Queiroz e Roberto Queiroz Junior.
In a
late-night late November 2001, Ricardo Teixeira received in the office of his
home in Itanhangá, upscale neighborhood in western of the Rio de Janeiro, its
main ally: Mr. Eduardo Viana, laconic, the president of the Federation of
Football Carioca informed to the Ricardo Teixeira, of the decision to step down
as president of the Brazilian Confederation of Football. The letter was already
written. Teixeira had the backing of family, ex-father in Law, Mr. Joao
Havelange and the dome of FIFA.
The
consequences of two Federal Commissions Parliamentary of Investigations
investigating Brazilian football since the early 2000s were still uncertain and
Teixeira heard from lawyers friends the likely ramifications of complaints that
the incriminating. He feared being arrested.
This
fact, revealed only now remained a secret because of a commitment made by those
present that encounter. The "stay" gave up after an unexpected manifestation
of Viana, Attorney in Law from the Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). He broke the speech with fury from Teixeira, and in a makeshift defense
speech that stood by the eloquence and, in a gesture that mixed boldness and
authority, tore the document.
To Viana,
the CBF had enough wits to avoid the condemnation of Teixeira. "Ricardo
was already ready with all change for Miami. Was just buy the tickets," he
told state his uncle, Marco Antonio Teixeira, who then was answered by the
secretary-general of the CBF.
Ten years
and four months later, again worn with an avalanche of complaints, which placed
him at the center of corruption scandals, Ricardo Teixeira opted for the second
and final resignation. Reading the new letter, on March 12 this year (2012),
was the first act of Jose Maria Marin as president of CBF and marked the most
surprising change of course in the history of the entity.
Since
early 2011, Teixeira was facing two serious political problems. One of was
internal. After eight years of living in harmony with former pres. Lula, he
noticed a clear intention of the present president of Brazil, Dilma Rousseff in
keeping it at bay. This increasing constraint imposed by the Palácio do
Planalto peaked at an event organized by FIFA in Rio on 30 July last year. In a
makeshift salon at the Marina da Gloria, the President Rousseff ignored him in
the ceremonial and Teixeira was demanded that the two do not sit side by side.
The ratio
of CBF with the PT (Brazilian Politic Party) and LULA, began with some unknowns
as soon as he came to power in 2002. For weeks, Teixeira and his aides have
wondered about how the new president would react to the wave of complaints that
stamped the facade of the building of the CBF and the profile of its main
leader. Gradually, however, Lula has positioned itself as a reliable partner of
Teixeira and helped bring the 2014 World Cup for Brazil. With Dilma, the direct
channel with the Federal government is over.
Ricardo
Teixeira also lived cornered because of disagreements with FIFA President
Joseph Blatter. The two were engaged in a dispute over the succession at the
FIFA in unreported entity. Publicly, Teixeira supported the reelection of
Swiss. But the situation worsened after the leader of CBF interview published
by the magazine Piauí, in July last year. In reiterating that vote for Blatter
was immediately reprimanded by the youngest daughter, aged 11.
Naively,
she asked her father why he had changed his mind, because he said that his home
was the candidate of Qatari, Mr. Mohammad Bin Hammam.
"He
was shot in the chest", said Marco Antonio Teixeira, a political opponent
of his nephew since he was fired by the CBF in January. "Here, in Freudian
slip, Ricardo spent a receipt."
Since
then, Blatter went on to have one objective about Teixeira: eliminate it from
football. The Swiss leader threatened facilitate the disclosure of documents
held by the Justice of his country, which could clarify the involvement of
Teixeira and João Havelange a fraudulent transaction between FIFA and sports
marketing company ISL in the 90s.
Amounted
to that other allegations against Teixeira. The latest relates to possible
diversions of public funds in contracts of sale of friendly between Brazil vs
Portugal in November 2008 in Brasilia. There are two ongoing investigations
into the case.
A investigation
liability under the Civil Police of the Federal District. The other runs in 16.
Precinct Police of Rio and investigate whether the former president of CBF have
been committed in this case, crimes of money laundering, tax evasion,
conspiracy and forgery.
If in
2001, Teixeira had two squires weight, Eduardo Viana and Nabi Abi Chedid, one
of his closest deputies in CBF, he had to cross the new period of turbulence
practically isolated. So, Viana and Chedid died in 2006. In the same year, the
official rehearsed a rapprochement with Marco Polo Del Nero, whom he invited to
be head of the country's delegation at the World Cup in Germany. But now meet
more often with the current president of the São Paulo Football Federation only
at the end of last year, as against a backdrop of gloomy prospects.
Target of
intense criticism from a portion of the press, Teixeira began preparing from
August 2011 to leave the country and settling in Miami, where he owns a home in
a luxury condo in Boca Raton. First divested its dutch cattle and the small
business dairy farm in Santa Rosa, in Pirai, inside the Rio de Janeiro, also
sold a lot in a very valued (Jardim Pernambuco) in the neighborhood of Leblon,
Rio de Janeiro south region.
Fired Individuals
employers and elected the two officials Jose Maria Marin and Marco Polo Del
Nero, now also vice-president of the CBF, as its two major partners. He closed
with them according to receive salary as a consultant entity - R 120 000 per
month - and even claimed that their expenses related to legal costs, “with the
justice” among others, count on the contribution of the confederation, means
the CBF have to still paying the bills.
Teixeira
left the CBF and also the chair of the Organizing Committee of the 2014 World
Cup in March, for the same reason that drafted his first resignation letter in
2001: the fear of being in jail.
Nine months
after swapping the glamor of a busy schedule of meetings with influential
politicians and businessmen for a more reserved in Florida, makes a point of
staying well informed only about the big business of CBF - there are contracts
in place with 11 sponsors, representing a annual revenue of the entity about $
350 million.
The dream
of chairing the FIFA and driving the World Cup is buried. But Teixeira will
continue to work behind the scenes of the CBF, to ensure, within two years, the
election of Marco Polo Del Nero, likely successor Jose Maria Marin.
BEGINNING
OF THE END
In 1989
Ricardo
Teixeira is elected for the first time, to preside over the CBF. It was raised
to the command of football influenced by his then father João Havelange.
Teixeira replaced Octavio Pinto Guimarães.
In 1994
The
Brazilian team wins the World Cup in the U.S. and, in turn, CBF is investigated
by the IRS for failing to declare tons of products. The episode became known as
the "flight of swag."
In 1998
Hours
after Ronaldo getting sick and being taken to a hospital in Paris, the
selection is defeated in the Cup final by France 3-0. Teixeira rumors attribute
to the decision to escalate the ace, which was denied by the entire coaching
staff of the team.
In 2000
The
Senate and House Federal install PICs to investigate the control of football in
the country
In 2001
Fearful
of the consequences of the two CPIs, Ricardo Teixeira writes his first
resignation letter, a document that is ripped at home by then President of the
Football Federation of Rio, Eduardo Viana.
In 2002
The
Brazil gets another world title in managing Ricardo Teixeira: wins the World
Cup in South Korea and Japan
In 2007
On
October 30, Brazil is confirmed by FIFA to host the 2014 World Cup.
In 2012
Teixeira
resigns as president of CBF on March 12. Jose Maria Marin replaces.
As anyone
can see above, the excesses and corruptions have happened from long time ago, and
even the enrichment that it was never properly investigated by the IRS and
Federal Police, which shows us that grocery thief has much more importance than
a white collar thief.
But
things continue on the same line, or someone who has proven otherwise. I doubt
it.
By LEONARDO MAIA, SÍLVIO BARSETTI, JAMES
Rogero-estadao.com.br photo: Disclosure.
Comment:
Roberto Queiroz. Translation:
Roberto Queiroz and Roberto Queiroz Junior.
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