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27 de fevereiro de 2011

Alongside the Arena Cup at Recife, Pernambuco State./À margem da Arena da Copa em Recife.



As cifras da Copa do Mundo são astronômicas. Um estudo do governo federal aponta um impacto econômico de R$ 180 bilhões no país por causa do Mundial de 2014, entre recursos investidos e gerados na competição. Trata-se de um avanço esperado por muitos, mas sem alcance efetivo a boa parte da população. Uma carência sem prazo para acabar, seja qual for a distância a relação aos modernos projetos de arenas.

Nem que esse hiato seja de apenas 300 metros, a alguns passos através das enormes rochas que funcionam como uma ponte natural no Rio Capibaribe, separando uma ainda desconhecida comunidade em Santa Mônica, na região metropolitana, do já mundialmente comentado estádio pernambucano para a próxima Copa. Margens que separam o futuro do presente, o investimento do ócio, a realidade da esperança.

Praia em Camaragibe.

Enquanto o Recife impressiona como a 21ª metrópole do mundo em número de edifícios, a 19 quilômetros do Marco Zero, bem no entorno da futura arena, o visual rural toma conta da comunidade. Na beira do rio, por exemplo, a criação de vacas de Seu Isael em estábulos improvisados. No leito rochoso do Capibaribe as pessoas aproveitam para tomar banho. Um lampejo de diversão possível.

Aos domingos, diz Sheila, os churrascos tomam conta do local, com mulheres de biquíni se bronzeando e homens comandando o pagode. “A praia é longe demais e aqui tem o nosso canto sem problema com ninguém. Os meninos só brincam aí”, conta, sem saber que boa parte do rio recebe uma carga de dejetos de 430 mil pessoas no Recife. Ao chegar a Camaragibe, o rio sofre com dois indicadores negativos segundo a CPRH, o de coliformes termos tolerantes e o risco de salinização do solo.

Se até o principal ponto de distração local é degradado, o que dizer de serviços básicos, como saneamento? Na travessa, o esgoto corre a céu aberto, tornando o beco ainda mais degradado. Sheila e Wesley sequer estavam calçados durante a reportagem. Essa situação condiz com um estado onde apenas 43% da população tem acesso à rede de esgoto. Enquanto isso, a arena é apresentada como novo vetor de medidas socioambientais, com o uso de energia solar, reaproveitamento de água, soluções de ventilação e tratamento de esgoto.

Realidades paralelas.

Ao todo, serão investidos R$ 33 bilhões em infra-estrutura no Brasil visando o próximo Mundial, entre estradas, aeroportos etc. Deste total, 78% será bancado pelo setor público. Projetos são encaminhados visando a acessibilidade, a prioridade da FIFA, com o objetivo de receber os 3,6 milhões de turistas na Copa. Para muitos brasileiros, o verdadeiro acesso, bem além de 2014, seria uma parada de ônibus mais próxima, a manutenção da pracinha local ou uma travessa de concreto, no mínimo.

A faxineira foi enfática ao comentar o projeto da Cidade da Copa, que prevê a construção de um novo bairro do outro lado do rio até 2020, com 36 mil pessoas. “De vez em quando a gente atravessa o rio para pegar manga e jaca do outro lado e vê que está mudando tudo. Vai ficar bonito, mas acho que vão mexer do lado de cá também, pois se de um lado vai ter uma cidade nova, aqui vai ficar assim?”, questiona Sheila, sem precisar apontar os motivos para o contexto antagônico.

Como Santa Mônica está a 20 quilômetros do Marco Zero, o trajeto mais fácil será via metrô. Será, no “futuro”, pois a nova estação (Cosme e Damião) ficará a quase um quilômetro da casas de Sheila, Wesley, Isael e Leandro. Uma obra direcionada para a Arena. Por enquanto, segue a rotina da comunidade, de poucas oportunidades de trabalho e infra estrutura precária. Isso tudo a apenas 300 metros de um marco do desenvolvimento econômico do estado.

Van da lembrança.

“Chegou a van, pessoal. Vamos juntar o povo”. O recado, alto, foi dado em um beco na Rua Tenente Arnaldo Quagliato, o último trecho da comunidade de Santa Mônica, à margem do Rio Capibaribe, em Camaragibe. Segundos depois, a constatação do equívoco seguida de surpresa com a presença da equipe de reportagem do Diário. A presença da tal van esperada pela moradora - e na verdade costumam ser várias - virou uma rotina no local nos últimos meses, nas terças e quintas-feiras. Datas das seguidas explosões de rochas do terreno da Arena Pernambuco, do outro lado do rio, em São Lourenço da Mata.

Por questão de segurança, todos os imóveis precisam ser desocupados. Afinal, ali é o local habitado mais próximo do sítio de 270 hectares onde o estádio vem sendo erguido. Presente nos últimos seis isolamentos, Sheila Freitas, de 24 anos, sempre leva o filho John Wesley, um já fiel torcedor do Santa Cruz de apenas cinco anos. Moradora da comunidade há sete anos, ela é a figura central desta reportagem, tão perto do maior projeto de Pernambuco para a Copa do Mundo, e, em proporções inversas, distante demais dos investimentos pró-Copa.

“Nunca imaginei que um estádio desse fosse ficar tão perto da minha casa. Espero que mude Santa Mônica também”, comentou Sheila, avessa à entrevista no início. A cada detonação, mais de 200 pessoas de três ruas são levadas a uma quadra poliesportiva próxima. Durante uma hora, funcionários da Odebrecht - construtora da obra - distribuem biscoitos e refrigerantes aos moradores. Intenso, o barulho é ouvido até no ginásio, mas já em segurança, segundo o detalhado “Plano de Fogo” e os laudos da PM, Bombeiros e Agência de Meio Ambiente (CPRH). A van leva e traz.

Curso da esperança.

Desempregada, Sheila vive com um orçamento mensal de R$ 250. Menos da metade de um salário mínimo. Em um casebre cedido pela ex-sogra, ela vive com o filho e um irmão de 16 anos, torcedor do Sport, com quem discute futebol. O trabalho se restringe a algumas faxinas. A última conta de energia, por exemplo, foi de R$ 38. “É muito caro e eu quase não ligo a TV. Mas fique um dia sem pagar para ver o que acontece”, queixou-se. “Estudei até a 8ª série, mas as oportunidades não apareceram. Pelo menos ainda tenho a minha mãe para me ajudar”. Veio à gravidez, a separação e a distância dos pais, no Recife

Veio o Mundial e o som das máquinas na obra, invadindo o único quarto de sua casa a partir das 7h. Resignada, Sheila almeja uma chance nessa mesma construção. Em janeiro, ela e outras pessoas da comunidade se inscreveram num programa de qualificação da Odebrecht. O Programa Acreditar cadastrou 2.500 pessoas. Cursos oferecidos: armador, carpinteiro e ajudante de pedreiro.

Para isso, era preciso passar em provas de português, matemática e, acredite, conhecimentos gerais da Copa de 2014. Sheila está inscrita em carpintaria. Ninguém foi chamado, mas o vizinho e amigo Leandro César, 29, demonstra expectativa. “Vai ser bom para gerar emprego para as pessoas daqui, pois tem muita gente desempregada”, diz. No pico da obra, o número de trabalhadores chegará a 1.500, cinco vezes mais que o atual.

Estamos sempre acompanhando as reportagens sobre o que estão fazendo em Recife (pois residimos nesta cidade) e certamente que concordo com quase tudo que o Cássio Zirpoli escreve, só não concordo que este evento não trará benefícios para a população que vive a margem da sociedade, lógico que trará transporte, mesmo um pouco distante, esgotos, escola, água tratada, e outras coisas é assim que vejo e acredito.

Uma coisa não entendo, porque a construtora tem que fazer estes “testes” e de conhecimentos gerais? Deveria isto sim, formar classes no próprio sitio dos trabalhos, depois de contratar estas pessoas com classes mostrando a realidade da Copa, o que ela (a Copa do Mundo) deverá trazer para todos e até ensinar algumas palavras em inglês, pois certamente todos vão precisar disto (lembre-se que a Copa de 2010 foi na África do Sul, onde todos falam inglês). Parece até discriminação e depois falam que não temos mão de obra disponível boa e barato.

O Brasil tem muita coisa para melhorar, todos nós sabemos disto, mais uma coisa tem que mudar urgentemente, e é a ATITUDE de algumas pessoas que tem o poder de mudar, sem isto, não iremos a lugar nenhum.


Fonte: Diário de Pernambuco, Cássio Zirpoli. Foto: Teresa Maia.
Comentário e Tradução: Roberto Queiroz de Andrade.

The figures of the World Cup are astronomical. A federal study shows economic impact of $ 180 billion in the country because of the World 2014, between resources invested and generated at the competition. This is a breakthrough expected by many, but not the most effective range of the population.

A grace period not to end, whatever the distance compared to modern designs of arenas. Not that this gap is only 300 meters, a short walk through the huge rocks that act as a natural bridge in Capibaribe River separating a yet unknown community called Santa Monica, in the metropolitan area, already the world stage Pernambuco reviewed for the next Cup . Margins that separate the future of this, investment in leisure, the reality of hope.

Beach Camaragibe.

While Recife impresses as the 21st city in the world in number of buildings, 19 km from Ground Zero and surrounding the future arena, the visual takes over the rural community. On the riverbank, for example, the creation of cows in stalls Mr. Isael improvised. The bedrock of Capibaribe people take the opportunity to bathe. A glimmer of entertainment possible.

On Sundays, says Sheila, barbecues take account of local women sunbathing in bikinis and men commanding the music. "The beach is too far and here is our song no problem with anyone (higher sound). The boys just playing around, "he says, not knowing that much of the river receives waste from a cargo of 430 000 people in Recife. In reaching Camaragibe, the river suffers from two negative indicators according to CPRH the terms of coliforms tolerant and the risk of soil salinization.

If even the main point of distraction site is broken down, what about basic services like sanitation? In the lane, the sewage runs in open air, making the alley further degraded. Sheila and Wesley were not even shoes during the story. This situation is consistent with a state where only 43% of the population has access to sewerage. Meanwhile, the arena is presented as a new vector of social and environmental, with the use of solar energy, water reuse solutions, ventilation and sewage treatment.

Parallel realities.

In all, invested $ 33 billion in infrastructure in Brazil to the next World Cup, including roads, airports etc. Of this total, 78% will be funded by the public sector. Projects move aimed at accessibility, the priority of FIFA, with the goal of receiving 3.6 million tourists in the World Cup. For many Brazilians, the real access, well beyond 2014, would be a bus stop nearest the location or maintenance of a square plate of concrete, at least.

The cleaning lady was emphatic when commenting on the project of the City Cup, which includes construction of a new neighborhood across the river by 2020, with 36 thousand people. "Sometimes when people across the river to pick mangoes and jackfruit on the other side and see that everything is changing. It'll be nice, but I think they will move on this side too, because if one side will have a new city will look like here? "Asked Sheila, without pointing out the reasons for the antagonistic context”.

As Santa Monica community is 20 miles from Ground Zero, the easier path is via the subway. It will, "future", since the new station (Cosme and Damião) will be at about a kilometer from the homes of Sheila, Wesley, and Isael Leandro. A work directed to the Arena.

Meanwhile, following the routine of the community, few job opportunities and poor infrastructure. This all just 300 meters from a framework of economic development of the state.

A Van come to pick up all.

"It's van, folks. Come join the people. " The message, loud, was given in an alley at Rua Tenente Arnaldo Quagliato, the last part of the community of Santa Monica, the River Capibaribe at Camaragibe community. Seconds later, the evidence of mistake then by surprise with the presence of the reporting staff of the Journal. The presence of the van as expected by the resident - and in fact often several - has become a routine in place in recent months, on Tuesdays and Thursdays. Dates followed explosions rock the land on which Pernambuco Arena, across the river in São Lourenço da Mata.

For safety, all buildings must be vacated. After all, there is a place inhabited nearest the site of 270 acres where the stadium is being erected. This past six isolates, Sheila Davis, 24, always takes his son John Wesley, now a faithful supporter of Santa Cruz FC with just five years. Community resident for seven years, she is the central figure of this story, so close to the largest project of Pernambuco for the World Cup, and in inverse proportions, far too many investment pro-finals.

"I never thought this would be a stadium so near my house. Santa Monica hope it will change too, "said Sheila, averse to interview earlier. With each explosion, more than 200 people from three streets are taken to a nearby sports field. For an hour, employes form the Odebrecht - construction of the work - distributing biscuits and soft drinks to residents. Intense, the noise is heard even at the gym, but on security, according to the Comprehensive Plan of Fire "and the reports of the Military Police, Fire Department and the Environment Agency (CPRH). The van drives to and.

Course of hope.

Unemployed Sheila lives with a monthly budget of $ 250. Less than half the minimum wage. In a hut donated by ex-mother, she lives with her son and a brother aged 16, a fan of Sport Club of Recife, with whom he discusses football.

The work is restricted to a few cleanups. The last energy bill, for example, was R $ 38. "It's very expensive and I hardly turn on the TV. But stay a day without pay to see what happens, "he complained. "I studied until grade 8, but the opportunity never came. At least I still have my mother to help me. " Came to pregnancy, husband separation and distance, in Recife.

Came the World Cup and the sound of machinery in the work, the invading single room of her house from 7am. Resigned, Sheila desires a chance in the same building. In January, she and others in the community enrolled in a qualification program of Odebrecht. Believing Program registered 2,500 people. Courses offered: owner, carpenter and bricklayer's helper.

For that, we had to pass exams in Portuguese, mathematics, and believe me, knowledge of the 2014 World Cup. Sheila is entered in carpentry. No one was called, but the neighbor and friend Cesar Leandro, 29, demonstrates expectation. "It'll be good to create jobs for people here because there are many people unemployed," he says. At peak construction, the number of employees will reach 1,500, five times more than today.

We are always following the reports about what they are doing in Recife (because we reside in this city) and certainly I agree with almost everything that Cassio Zirpoli write, just do not agree that this event will not bring benefits to people who live outside of society, logical transport that will bring even a little distant, sewers, schools, clean water, and stuff is how I see and believe.

One thing I do not understand, because the builder company Odebrecht has to make these "tests" of general knowledge about World Cup? It should rather form classes in their own place of business, after hiring these people with classes showing the reality of the Cup, which it (the World Cup) will bring to everyone and even teach a few English words, for surely all will needed it (remember the 2010 World Cup was in South Africa, where everyone speaks English).

It seems to discrimination and then says that we do not have good manpower available and inexpensive.

Brazil has a lot to improve, we all know that, one more thing has to change urgently, and it is the ATTITUDE of some people who have the power to change, without it, we will not go anywhere.


Source: Diario de Pernambuco, Cassio Zirpoli. Photo: Teresa Maia.
Commentary and Translation: Roberto Queiroz de Andrade.

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