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10 de fevereiro de 2013

DIRETOR DA FIFA VIRÁ AO BRASIL PARA COMBATER A MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS / DIRECTOR OF FIFA WILL COME TO BRAZIL TO COMBAT MATCH FIXING



Ralf Mutchke, ex-funcionário da Interpol, vem ao País da Copa para tratar sobre o problema mundial.
ZURIQUE - Grupos criminosos estão infiltrados no futebol sul-americano. O alerta é do diretor de segurança da FIFA, o alemão Ralf Mutchke. Ele revela ao Estado que vai começar a implementar no Brasil em março um projeto para lutar contra o fenômeno da manipulação de resultados, tendo em vista também uma ação para a proteção dos jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014.

Mutchke recebeu a reportagem na sede da FIFA, em Zurique, e estima que hoje cem países sejam vulneráveis ao crime organizado no futebol.

O ex-chefe do combate à corrupção e crimes financeiros na Alemanha e ex-funcionário de alto escalão da Interpol também avaliou para a situação da segurança na Copa do Mundo no Brasil em 2014. Apontou que não são episódios como o drama da boate de Santa Maria que tira seu sono. "O que mais me preocupa é a criminalidade nas ruas das cidades brasileiras."

A Europol publicou o resultado de sua investigação sobre manipulação de resultados no futebol, apontando para 700 jogos sob suspeita e 450 pessoas envolvidas. Foi algo que o surpreendeu?

Não me surpreendeu. A maioria dos casos eu conhecia e é o resultado de investigações em seis países. Não há surpresa. Apenas somaram todos os casos e apresentaram ao público. Muitos já foram punidos. Obviamente, esses casos prejudicam a imagem do futebol.

Mas o que isso revela em relação ao uso do futebol por grupos criminosos?

Em primeiro lugar, precisamos admitir que o envolvimento do crime organizado em apostas no esporte aumentou. Fazem como qualquer empresa do mundo. Avaliam o tamanho do mercado e os riscos. O mercado mudou nos últimos anos. Pela internet, você pode ter acesso às casas de apostas no Sudeste Asiático e, a partir daí, de todas as partes do mundo. Mesmo que as apostas sejam proibidas em seu país, você pode fazê-las pela internet em empresas na Ásia. O mercado também mudou com a possibilidade de apostar enquanto um jogo está ocorrendo. Antes, só se podia apostar antes de o jogo começar. Agora, há muitas formas de apostar, o que torna isso algo muito atraente para o crime organizado. O que vemos é que grupos criminosos da Ásia e do Leste Europeu e também em toda a América do Sul avaliam que as apostas são de alto lucro e baixo risco. Por isso, estão investindo muito em se infiltrar no futebol.

Como o senhor avalia a vulnerabilidade do Brasil diante desse fenômeno?

Estamos falando de corrupção e encontramos corrupção em todos os lugares. Não me importa qual a região. Eu preciso lutar contra ela em todo o mundo. Não é questão de desenvolvimento de um país. Encontramos indícios de criminosos mesmo na Finlândia, um país que era considerado como um dos menos corruptos do mundo. Mesmo assim, conseguiram se infiltrar nos clubes de futebol para manipular. Portanto, o crime não está preocupado com o índice de desenvolvimento de um país. É uma questão de mercado. Eu avalio que cerca de cem campeonatos pelo mundo são vulneráveis. Alguns falam que é fácil controlar isso. Ninguém vai controlar.

No caso do Brasil, o senhor está em contato com a Polícia Federal?

Nosso contato primeiro é com a CBF. Mas, claro, também temos alguns contatos com a polícia. Também temos uma forte coordenação com a Interpol e que vamos usar. Em março, vamos ao Brasil com uma iniciativa - que já lançamos na Turquia, na Europa e na Guatemala para a América Central. Vamos ao Brasil, com a Interpol, para tratar da manipulação de resultados, já na preparação para a Copa das Confederações e Copa do Mundo. Isso é para alertar sobre a situação e vamos desenvolver um plano sobre o que fazer. Muita gente sabe do problema. Mas não sabe o que fazer. Queremos o estabelecimento de um sistema em que relatórios possam ser transmitidos e cheguem até mim. Convidaremos juízes, policiais e vários atores para participar.

Há risco de manipulação nos grandes eventos da FIFA?

Sempre há um risco. Se os grupos se infiltrassem nos nossos produtos mais nobres, como a Copa do Mundo, seria terrível. Seriam os melhores lucros que poderiam obter. Todos os árbitros que vão ao Mundial no Brasil estão sendo treinados. Todos vão assinar uma declaração de integridade. Há ainda um encontro dos árbitros com a Interpol.

Há pouco tempo, o jogador italiano chamado Farina denunciou um esquema mafioso no futebol italiano. Foi aplaudido e depois nunca mais conseguiu um lugar num clube italiano. O que isso mostra? O senhor acredita que a resistência em lidar com esse fenômeno vem também do futebol?

Não sei. Eu era o responsável por investigar a corrupção na Alemanha e crimes financeiros. E vi que quando há alguém que denuncia, essa pessoa acaba saindo do país. Eles saem da equipe. Talvez isso ocorra também no futebol.

Em relação à segurança da Copa de 2014, outro assunto de sua competência, ninguém questiona a capacidade dos organizadores em criar estádios seguros. A questão é o que ocorre quando a torcida sai às ruas e vai a boates como a de Santa Maria. Até que ponto o senhor está preocupado com a situação da segurança?

Ouvi dizer que na região de Santa Maria há crime também. Não é a discoteca. Vimos carros queimados (em Santa Catarina). Isso é muito mais preocupante. Obviamente é preocupante o que ocorreu na discoteca. Mas isso poderia ocorrer em qualquer parte do mundo, inclusive na Europa. Mas o que de longe é muito mais preocupante é a violência nas ruas em São Paulo e Rio de Janeiro. São essas as considerações dos turistas estrangeiros ao avaliar se é seguro ir ao Brasil. "Será que posso ir às ruas?" Isso é muito mais alarmante para o turista que a discoteca. A questão que alguém se coloca se vai ou não ao Brasil é a violência nas ruas. Esse é o problema.

E o que senhor pensa em fazer sobre isso?

Temos de lidar com isso. Sei que os brasileiros sabem bem do problema e planejam algo antes da Copa das Confederações para mostrar que estão preparados. Sei que os militares, que têm muitos recursos, estão envolvidos nessa preparação. Há ainda a Polícia Federal e as polícias estaduais. Estamos ainda trabalhando sobre os detalhes e na semana que vem o COL vai explicar ao comitê de estádios da FIFA o que vai ser feito.

Quantos policiais serão necessários para a garantir a segurança na Copa?

Quanto mais, melhor.

Mas o senhor não vê um problema diante da participação de militares nas ruas?

Talvez seja um pouco estranho na Europa ver os militares na rua. Aqui, fazemos uma diferenciação grande entre o que é segurança externa e interna. Mas acho que, no Brasil, a Polícia Militar já tem deveres de polícia e é diferente.

Terrorismo no Mundial de 2014 continua sendo uma preocupação?

Não é para nós avaliarmos isso. Quem precisa colocar essa questão são os serviços de inteligência e precisamos nos apoiar nessa avaliação. A Interpol está coletando informações também. O futebol até agora não foi alvo de ataques terroristas. E espero que assim continue. Porque, sinceramente, um estádio e uma Fan Fest são quase impossíveis de se tornarem alvos do terrorismo, e em qualquer lugar com milhares de pessoas.

Em minha opinião deveriam começar mesmo era avaliando a corrupção dentro da própria FIFA, por exemplo, no que se diz sobre a venda de um evento a um País. De que adianta ir procurar o cisco nos olhos dos outros se não cuidam da trave em seus próprios olhos. Dá até para rir, enquanto este senhor fala sobre isto, o presidente da própria entidade, diz que não existe que é boato, então, como é que podemos viver e aceitar isto.

Por JAMIL CHADE / ENVIADO ESPECIAL- estadao.com.br. Foto: divulgação.
Comentário: Roberto Queiroz. Tradução: Roberto Queiroz e Roberto Queiroz Junior.

Ralf Mutchke, a former official of Interpol, the World Cup comes to the country to handle on the global problem.

ZURICH - Criminal gangs are infiltrating the South American football. The alert is the chief security officer of FIFA, the German Ralf Mutchke. He reveals that the state will begin implementing in Brazil in March a project to combat the phenomenon of manipulation of results, also in view of action for the protection of the games of the Confederations Cup and the World Cup 2014.

Mutchke received the report at FIFA headquarters in Zurich, and today estimates that one hundred countries are vulnerable to organized crime in football.

The former head of anti-corruption and financial crimes in Germany and a former senior official of Interpol also evaluated for the security situation in the World Cup in Brazil in 2014. He pointed out that there are episodes like the drama club of Santa Maria who takes his sleep. "What worries me most is the crime in the streets of Brazilian cities."

Europol published the results of its investigation into match-fixing in football, pointing to 700 games and 450 suspected people involved. It was something that surprised?

I was not surprised. Most cases I knew and is the result of investigations in six countries. There is no surprise. Just added all cases and presented to the public. Many have already been punished. Obviously, these cases damage the image of football.

But what does it say about the use of football by criminal gangs?

First, we must admit that the involvement of organized crime in betting on sports has increased. They like any company in the world. Assess market size and risk. The market has changed in recent years. Through the Internet, you can access the bookmakers in Southeast Asia and, thereafter, all parts of the world. Even bets are prohibited in your country, you can do them on the internet companies in Asia. The market has also changed with the possibility of betting while a game is going on. Before, you could only bet before the game starts. Now, there are many ways to bet, which makes it something very attractive to organized crime. What we see is that criminal groups from Asia and Eastern Europe and also across South America estimate that the stakes are high profit and low risk. So, are investing heavily in infiltrating in football.

How do you assess the vulnerability of Brazil in this phenomenon?

We are talking about corruption and find corruption everywhere. I do not care which area. I need to fight it worldwide. It is not a matter of development of a country. We find evidence of criminal even in Finland, a country that was considered one of the least corrupt in the world. Still, managed to infiltrate the football clubs to handle. Therefore, the crime is not concerned with the rate of development of a country. It's a market issue. I rate it about a hundred leagues around the world are vulnerable. Some say that it is easy to control. Nobody will control.
In Brazil, you're in touch with the Federal Police?

Our first contact is with the CBF. But of course, we also have some contacts with the police. We also have a strong coordination with Interpol and that we will use. In March, we go to Brazil with an initiative - already launched in Turkey, Europe and Guatemala in Central America. Come to Brazil, with Interpol, to treat the manipulation of results, already in preparation for the Confederations Cup and World Cup. This is to alert about the situation and we will develop a plan on what to do. Many people know of the problem. But do not know what to do. We want to establish a system in which reports can be transmitted and to come unto me. Invite judges, police and various actors to participate.

Risk of manipulation in major FIFA events?

There is always a risk. If the groups to infiltrate our products more noble, like the World Cup, it would be terrible. Profits would be the best they could get. All referees who go to the World Cup in Brazil are being trained. Everyone will sign a statement of integrity. There is also a meeting of the referees with Interpol.

Recently, the Italian player mafioso Farina denounced a scheme in Italian football. He was applauded and then never got a place in Italian club. What does this show? Do you believe that the strength in dealing with this phenomenon is also football?

I do not know. I was responsible for investigating corruption and financial crimes in Germany. And when I saw that there is someone who betrays, that person ends up leaving the country. They leave the team. Perhaps this will also happen in football.

Regarding security of the 2014 World Cup, another issue of jurisdiction, no one questions the ability of the organizers to create safe stadiums. The question is what happens when the fans come out to the streets and going to nightclubs such as Santa Maria. To what extent are you concerned about the security situation?

I heard that in the region of Santa Maria's crime also. Not the disco. We saw cars burned (Santa Catarina). This is much more worrying. Obviously it's worrying what happened in the nightclub. But it could happen anywhere in the world, including Europe. But what is far more worrying is the violence on the streets in Sao Paulo and Rio de Janeiro. These are the considerations of foreign tourists to assess whether it is safe to go to Brazil. "Can I go to the streets?" This is much more alarming for the tourist that the nightclub. The question arises if someone goes to Brazil or not is violence in the streets. That's the problem.

And what do you think about it in?

We have to deal with it. I know that Brazilians are well aware of the problem and plan something before the Confederations Cup to show they are ready. I know that the military, which has many resources are involved in this preparation. There is also the Federal Police and state police. We are still working on the details and next week the COL will explain to the committee of the FIFA stadiums that will be done.

How many police officers are needed to ensure safety in the Cup?
The more the merrier.

But you do not see a problem on the participation of the military in the streets?
Maybe it's a bit odd in Europe see the military on the street. Here, we differentiate between what is great external and internal security. But I think, in Brazil, the Military Police already have police duties and it is different.
Terrorism in the 2014 World Cup remains a concern?

It is not for us to evaluate it. Who needs to put this issue are the intelligence services and we need to support this assessment. Interpol is also collecting information. The football so far not was the target of terrorist attacks. And I hope that will continue. Because honestly, a stadium and a Fan Fest are almost impossible to become targets of terrorism, and anywhere with thousands of people.

In my opinion they should start evaluating myself was corruption within FIFA itself, for example, when it says on the sale of an event to a country What good go find the speck in the eyes of others do not take care of the beam in its own eyes. You can even laugh, while this gentleman speaks about it, the president of the entity itself, says that there is rumor, so how can we accept it and live with it.

By JAMIL CHAD - estadao.com.br. Photo: publicity.
Comment: Roberto Queiroz. Translation: Roberto Queiroz and Roberto Queiroz Junior.

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