Eram cerca de 150 jornalistas na sala de imprensa do Barcelona,
no Camp Nou. Todos à espera de uma confirmação, de umas poucas palavras que
poderiam se resumir em uma frase: Sandro Rosell renunciou à presidência do
Barcelona.
Era para ser uma entrevista coletiva. Mas não houve perguntas, e
não há entrevista sem perguntas.
Houve, sim, um comunicado, um pronunciamento. 4 minutos e 44
segundos em que Rosell falou de sua família, do que aconteceu em seu mandato e
desclassificou as acusações feitas sobre si.
"Naquele dia de 2010, houve uma festa democrática que
reforçou a grandeza do nosso Barcelona. Nestes quatro anos, entendi como é ser
barcelonista. Nestes quatro anos vencemos duas Ligas, uma Champions um
Mundial", disse.
"Ao time que ganhava com Ronaldinho e depois passou a
ganhar com Messi, somou-se uma gestão econômica eficiente. Além disso, hoje
temos o sonho de erguer nosso novo estádio sobre o nosso Camp Nou",
afirmou.
"Nos últimos dias, vejo uma injusta e temerária acusação contra
mim sobre a contratação de Neymar. Muita delas por ataques injustos de gente
que tem inveja de nós. Por isso, decido que meu momento acabou. De forma
irrevogável, estou deixando a presidência. Foi um privilégio ser presidente do
Barcelona e desejo o melhor ao novo presidente, Josep Maria Bartolomeu.
Obrigado a todos, viva o Barcelona e viva a Catalunha.", concluiu.
A decisão foi pensada no início da semana, ganhou força na
quarta-feira e foi finalmente tomada nesta quinta, após uma reunião com a cúpula
diretiva do clube.
A pessoas próximas, Rosell afirmou que não se via em condições
de comandar o clube enquanto estivesse envolvido nas investigações do ‘caso
Neymar'. O agora ex-presidente é acusado de apropriação indébita de capital da
transferência do jogador brasileiro.
A primeira denúncia contra Rosell foi feita no início de
dezembro, por Jordi Cases, sócio do clube e membro da oposição. Na época, Cases
afirmava que 40 milhões de euros do negócio com Neymar não estavam declarados
oficialmente pelo Barcelona.
Na segunda-feira, 20 de janeiro, o diário madrilenho El Mundo
publicou uma reportagem em que denunciava fato semelhante: a operação que levou
o brasileiro ao clube espanhol teria custado 95 milhões de euros e não 57
milhões, como anunciado pelo Barcelona.
No mesmo dia, durante entrevista coletiva para falar sobre a
reforma do Camp Nou, Rosell foi interrogado insistentemente sobre a denúncia.
Como em todas as declarações anteriores, disse que Neymar havia custado 57
milhões, colocando-se à disposição para dar explicações ao juiz Pablo Ruz, que
investiga o caso.
Na quarta-feira, a Justiça Espanhola confirmou que havia
aceitado a denúncia de Jordi Cases contra Sandro Rosell. O Barcelona, como
resposta, deu início a uma solicitação para que o caso fosse transferido para a
Catalunha, alegando que em Madri há muitas partes interessadas em prejudicar o
clube.
Em sua edição desta quinta-feira, o jornal La Vanguardia
publicou reportagem dizendo que Sandro Rosell pensava em deixar o cargo em
breve. A notícia repercutiu nos principais meios de comunicação espanhóis e,
nesta segunda-feira, o presidente reuniu a cúpula diretiva do clube para
debater sobre o futuro.
Decisão tomada, o clube divulgou para a imprensa que haverá uma
reunião com toda a junta diretiva. Neste encontro, Rosell anunciou a decisão de
renunciar ao cargo de presidente do Barcelona.
Restava o anúncio oficial, que veio diante de jornalistas de
todo o mundo, em forma de um comunicado. Sandro Rosell renunciou à presidência
do Barcelona.
O cargo, agora, fica nas mãos do então vice-presidente
esportivo, Josep Maria Bartolomeu, que ocupará a posição até o fim do mandato.
Agora o caso não está nas mãos do novo presidente, mas, nas mãos
da Policia Federal e da Receita, onde estão investigando. Seria muito interessante
ter isto no Brasil, até porque as maiorias dos dirigentes de nossos clubes
renunciariam.
E então o nosso futebol poderia ter uma chance de ser
profissional e ter transparência e ser também o melhor do mundo fora dos
campos, porque dentro já o é e faz tempo.
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